'Ucranianas são fáceis, porque são pobres', disse deputado de São Paulo 'Mamãe falei', sobre mulheres refugiadas
Nos áudios, que circulam nas redes sociais desde a noite
desta sexta (4) e teriam sido enviados para integrantes do MBL, há declarações
machistas e misóginas. Confira abaixo:
“São fáceis, porque elas são pobres. E aqui minha carta do
Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu
colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade.
Essas 'minas' em São Paulo você dá bom dia e ela ia cuspir na sua cara e aqui
são super simpáticas", afirma o deputado.
As declarações foram feitas durante viagem à Ucrânia, cujo
objetivo declarado pelo deputado era o de oferecer ajuda humanitária refugiados
após a invasão da Rússia ao país.
Nos áudios, o deputado estadual também compara a fila de
refugiadas à fila de uma balada.
"Acabei de cruzar a fronteira a pé aqui, da Ucrânia com
a Eslováquia. Eu juro, nunca na minha vida vi nada parecido em termos de ‘mina’
bonita. A fila das refugiadas, irmão. Imagina uma fila de sei lá, de 200 metros
ou mais, só deusa. Sem noção, inacreditável, é um bagulho fora de série. Se
pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos
pés da fila de refugiados aqui."
Em outro trecho, diz: "Passei agora quatro barreiras
alfandegárias, duas casinhas pra cada país. Eu contei, são doze policiais
deusas. Que você casa e faz tudo que ela quiser. Eu estou mal cara, não tenho
nem palavras para expressar. Quatro dessas eram 'minas' que você se ela cagar
você limpa o c* dela com a língua. Assim que essa guerra passar eu vou voltar para
cá".
Ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos,
na Grande São Paulo, na manhã de sábado (5), Arthur do Val confirmou que são
seus os áudios.
Inicialmente, ele disse que "houve um mal
entendido" e que as "pessoas estão misturando os áudios com outro
contexto".
"Foi errado o que eu falei, não é isso que eu penso. O
que eu falei foi um erro, em um momento de empolgação", disse ele.
Depois, o deputado gravou um vídeo no qual declarou que suas
frases foram "machistas" e "escrotas" e afirmou que se
comportou "como um moleque" ao responder a perguntas de amigos em um
grupo de conversas entre parceiros do futebol.
"Eu só quero que as pessoas me julguem pelo que eu fiz,
não pelo que eu não fiz", disse o deputado.
Segundo Arthur do Val, os áudios não foram enviados a grupos
"de política", e ele já estava na Eslováquia, quando teve acesso à
internet para enviá-los.
12
representações contra parlamentar
O parlamentar afirmou ainda que está na política por
"missão" e que pode sair se estiver "atrapalhando".
“Eu nunca entrei na política por dinheiro, poder ou carreira,
eu sempre fiz tudo que eu fiz por causa da missão. Então, se estou ajudando a
missão, estou dentro; se estou atrapalhando, eu saio fora. Não quero atrapalhar
ninguém, a luta dessas pessoas maravilhosas, então se estou atrapalhando, eu
saio e ponto”, disse ele, referindo-se ao MBL e à terceira via.
Doze representações foram protocoladas contra o deputado
desde sexta-feira (4), a maioria pedindo a perda do mandato. Do total, nove são
individuais, ou seja, elaboradas por um único deputado, e três são subscritas
por grupos de deputados. Arthur do Val informou que também não viu as
representações, mas não concorda com os pedidos de cassação.
"Também não vi as representações, agora quem pede
cassação, é claro que os áudios são nojentos, horrorosos, horríveis, agora
pedir cassação por causa disso? O mandato todo ser jogado no lixo por causa de
uma fala vazada em grupo de futebol, então, primeiro que abre um precedente
muito perigoso abrir cassação por áudio vazado, o mais grave assim, qual recado
a gente vai passar?", afirmou Do Val.
O deputado informou ainda que acha desproporcional a cassação
e que falou "asneiras, bobagens, coisas horrorosas", mas não encostou
em ninguém e comparou o caso com o do deputado estadual Fernando Cury
(Cidadania-SP), que em dezembro de 2020, um vídeo gravado por câmera da
Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) mostrou o deputado passando a mão
no seio de Isa Penna durante sessão extraordinária para votar o orçamento do
estado. A deputada registrou boletim de ocorrência contra o deputado por
importunação sexual.
"Na própria assembleia nós tivemos um caso real de
assédio, um caso real de assédio, e a punição foi 6 meses. Eu falo asneiras,
bobagens, coisas horrorosas, mas eu não encostei em ninguém e vou ser cassado?
Acho desproporcional”, afirmou.
Por meio de nota, mais cedo, Do Val já tinha afirmado que vai
"lutar até o fim contra a injustiça" dos pedidos de cassação de
mandato protocolados por parlamentares na Assembleia Legislativa de São Paulo
(Alesp).
"Sou um líder político com posições claras. Combato a
corrupção, enfrento privilégios e tenho como inimigos Lula e Bolsonaro. Não
querem retirar meus direitos políticos por ter roubado, por ter aparecido com
dinheiro na cueca ou feito rachadinha, coisas que graças a Deus nunca fiz. Se
fizesse isso, tenho certeza que jamais perderia meu mandato", diz o texto
divulgado nesta noite.
"Dei uma declaração lamentável, admito e peço desculpas
por isso; além de tudo, perdi minha noiva e prejudiquei meus amigos. Isso tudo
é sinal dos tempos: ladrões ficam impunes, gente honesta perde o mandato.
Lutarei até o fim contra esta injustiça."
Representações
na Alesp
Após a circulação dos áudios do deputado estadual Arthur do
Val (Podemos) com falas sexistas em relação a refugiadas ucranianas, vários
parlamentares protocolaram representações na Alesp.
A justificativa apresentada pelos colegas do deputado também
conhecido como "Mamãe Falei" é a quebra de decoro parlamentar. Mais
de dez pedidos foram apresentados ao Conselho de Ética nesta segunda-feira (7).
As representações têm até 30 dias para tramitar no Conselho.
Depois, o resultado segue para votação em plenário. Saiba como o processo
funciona:
Segundo a deputada Maria Lúcia Amary (PSDB), presidente do
Conselho de Ética, o grupo deve votar na manhã de quarta-feira (9) a unificação
das 12 representações. “Todas as representações têm o mesmo objeto e são contra
o mesmo representado”, diz.
'Estou tão preocupado em recuperar minha namorada que nem vi' processo do partido sobre expulsão, diz Arthur do Val. *Leia mais em G1/SP
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