Tipos de depressão e riscos que acarretam: Especialistas alertam para necessidade de acompanhamento médico
Agência Brasil |
Incluída no rol dos transtornos mentais, a depressão é uma
doença psiquiátrica comum, que se caracteriza por tristeza persistente e falta
de interesse em realizar atividades que antes eram consideradas divertidas. A
depressão pode afetar pessoas de todas as idades, desde bebês a idosos. Entre
os tipos mais comuns da doença estão a depressão maior, a bipolar, a pós-parto,
os transtornos depressivos induzidos por outras substâncias ou medicamentos,
entre outras. A distimia, por exemplo, é um tipo de depressão crônica e incapacitante,
que apresenta sintomas leves a moderados de tristeza, sensação de vazio ou
infelicidade.
“Todas
precisam de acompanhamento médico adequado pois, se não tratadas, essas doenças
podem levar ao suicídio”, afirmou o presidente da Associação Brasileira de
Psiquiatria (ABP), Antonio Geraldo da Silva. A campanha Setembro Amarelo,
realizada anualmente neste mês pela ABP, chama a atenção sobre a depressão e os
perigos que ela pode causar.
“Praticamente,
todos os casos de suicídio são relacionados aos transtornos mentais,
principalmente os não diagnosticados ou tratados incorretamente. Dessa forma, a
maior parte dos episódios fatais poderia ter sido evitada com as informações
corretas sobre saúde mental e doenças psiquiátricas”.
O doutor Antonio Geraldo Silva esclareceu que, devido à sua
alta prevalência, a depressão é a doença mais associada ao suicídio. “Não só durante a campanha Setembro Amarelo®️,
como em todos os meses, a ABP cumpre sua principal missão, que é disseminar
conteúdos relevantes sobre saúde mental para a sociedade, atuando na
conscientização da sua importância e na prevenção das doenças mentais”.
Fatores de
risco
Segundo informou o especialista, alguns fatores de risco
podem levar uma pessoa à depressão. “Existem diversos fatores que podem ser
considerados gatilhos e causam impacto no desenvolvimento de uma doença mental,
como causas genéticas, que chamamos de genótipo, e os fatores ambientais, os
fenótipos. São duas características que, quando combinadas, determinam se a
pessoa desenvolverá ou não qualquer tipo de doença”. Silva explicou que o
ambiente no qual o indivíduo está inserido e seu comportamento também
contribuem para o desenvolvimento de doenças mentais como, por exemplo,
conflitos familiares, dificuldades financeiras, problemas no relacionamento, a
influência da mídia e das redes sociais. Essas situações podem ser fatores
potencializadores para o surgimento de uma doença mental. “Sendo assim, isso
também tem impacto no comportamento suicida”, disse o psiquiatra.
Além dos fatores ambientais e genéticos, o presidente da ABP
lembrou que outros fatores podem impedir o diagnóstico precoce das doenças
mentais e, consequentemente, causar impacto na prevenção do suicídio, levando
ao aumento de casos, como o estigma e o tabu relacionados ao assunto. “Esses são aspectos importantes que impactam
negativamente nos portadores de doenças mentais e no comportamento suicida”.
“Praticamente, 100% das pessoas que tentam ou cometem suicídio têm alguma
doença psiquiátrica, diagnosticada ou não. As doenças mais relacionadas ao
suicídio, além da depressão, são transtorno bipolar, transtornos relacionados
ao uso e abuso de álcool e drogas, transtorno de personalidade e esquizofrenia.
Antonio Geraldo da Silva afirmou que a pessoa diagnosticada
com depressão precisa ter uma rede de apoio de familiares ou amigos. “A família e os amigos são fundamentais na
busca por ajuda e no apoio ao tratamento. Muitas vezes, são os primeiros a
perceber que há algo de diferente e apontar a necessidade de buscar auxílio psiquiátrico”.
Os sintomas depressivos variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns são
tristeza, fadiga, distúrbios de sono, alterações no peso, baixa autoestima,
perda de energia, dificuldade de concentração, redução de interesse em
atividades anteriormente prazerosas e no contato com pessoas, ideias suicidas.
Buscando
auxílio
É sempre bom ressaltar que somente um médico ou profissional
da área de saúde pode diagnosticar corretamente a depressão. O presidente da
ABP ressaltou que uma vez que se nota prejuízo no comportamento do indivíduo,
ou seja, quando os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é hora de
buscar um psiquiatra para avaliar o quadro. “Ansiedade e tristeza são
características normais do ser humano mas, a partir do momento em que nos
impedem de sair de casa, trabalhar, levar uma vida social ativa, nos relacionar
com outras pessoas, devemos procurar auxílio”.
Para ajudar uma pessoa depressiva, deve-se orientá-la a
buscar cuidados, um tratamento especializado para a doença. “Se a pessoa tem
sintomas depressivos, ela precisa e merece procurar ajuda com um médico
psiquiatra, que vai indicar e oferecer o melhor tratamento possível”.
O médico lembrou também que os quadros depressivos precisam
ser tratados com cuidado e urgência. “Não podemos deixar a doença envelhecer.
Se a pessoa está mostrando que tem os sintomas, devemos ajudá-la a procurar um
médico para fazer o diagnóstico, entender qual tipo de ajuda ela vai precisar e
iniciar o tratamento imediatamente”.
A pesquisa Vigitel Brasil, realizada em 2021 e publicada este
ano pelo Ministério da Saúde, incluiu pela primeira vez a depressão. O
levantamento mostrou que 11,3% dos cidadãos brasileiros receberam diagnóstico
da doença, o que corresponde a cerca de 23 milhões de pessoas, quase o dobro do
número divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, que indicava
a existência de 12 milhões de brasileiros com depressão. Considerando que nem
toda a população tem acesso aos serviços de saúde mental, Antonio Geraldo da
Silva destacou que muitas pessoas podem viver com depressão sem conhecer o
diagnóstico. “E isso é muito grave. Devido à alta prevalência, a depressão é a
doença mais associada ao suicídio”, reiterou. A própria OMS considera que a
depressão é a terceira doença mais incapacitante e, diante do envelhecimento da
população e das mudanças globais, existem perspectivas de que será a doença
mais incapacitante até 2030.
Crianças e
jovens
A psiquiatra Janine Veiga disse que a depressão infantil é
semelhante à do adulto e que os sintomas são iguais, em maior ou menor grau. A
doença pode ocorrer, por exemplo, por predisposição genética; por traumas
advindos de situações de abuso; por convívio familiar conflituoso; por eventos
estressantes, entre outras razões.
“Se não tratada a depressão, o jovem pode envolver-se com uso
de drogas, apresentar dificuldade no relacionamento social e há o risco de
agravamento da doença, que pode até chegar ao suicídio”, alertou. Janine
recomendou que os pais devem ficar atentos a mudanças de comportamento dos
filhos, como alteração do sono, padrão alimentar, irritabilidade, queda no
rendimento escolar, choro fácil, desânimo, entre outros.
Pandemia
A psicóloga da Fundação São Francisco Xavier Gabriela
Pinheiro Reis afirmou que as consequências da pandemia de covid-19 têm se
revelado preocupantes para a saúde mental da população. O Relatório Mundial de
Saúde Mental de 2022, divulgado pela OMS, revelou que apenas no primeiro ano da
pandemia 53 milhões de pessoas desenvolveram depressão e 76 milhões tiveram
ansiedade, com alta de 28% e 26% de incidência desses transtornos,
respectivamente.
De acordo com a OMS, o suicídio é a segunda principal causa
de morte entre indivíduos com idade entre 15 e 29 anos. “O suicídio é um tema
sensível e uma triste realidade na sociedade. A campanha Setembro Amarelo tem
fundamental importância na conscientização sobre o assunto e na promoção da
informação correta e, principalmente, para incentivar as pessoas que estejam
passando por momentos difíceis a buscarem ajuda”, comentou Gabriela.
Na avaliação da psicóloga, as doenças mentais precisam ser
encaradas sem preconceito. “Não é frescura. Depressão, bipolaridade e ansiedade
são doenças que devem ser diagnosticadas e tratadas o quanto antes”.
Bem me Quer
A campanha Bem Me Quer, Bem Me Quero: Cuidar da sua saúde
mental é um exercício diário”, realizada pela Associação Brasileira de
Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata), visa a
conscientizar a população sobre depressão, ansiedade e prevenção ao suicídio
por meio da valorização do autocuidado e do equilíbrio na rotina.
Para a associação, algumas atitudes podem fazer a diferença e
contribuir para a saúde mental, como não ficar o tempo todo conectado na
internet, estabelecer horários, evitar bebidas cafeinadas em excesso e optar por
uma alimentação equilibrada.
A presidente da Abrata, Marta Axthelm, chamou a atenção para
o fato de que a autocobrança para dar conta de tantos papéis, principalmente no
caso das mulheres, que são profissionais, mães, parceiras, amigas, no dia a
dia, pode ser um gatilho para a depressão. “É essencial reduzir o tempo de
acesso às redes sociais, principalmente no período da noite. No caso da
depressão, a condição pode apresentar muito sono, mas tem o outro lado, que é a
insônia”.
Segundo Marta, a depressão costuma a apresentar sinais que
não são percebidos pelo paciente, na maioria das vezes. No caso do suicídio,
quem pensa em tirar a própria vida quase sempre dá sinais, mas boa parte das
pessoas que estão ao seu redor não consegue identificá-los. “Por isso, o
Setembro Amarelo é tão importante para debater esses temas. Mais uma vez,
reforçamos nosso papel de promover iniciativas que despertam a conscientização
do autocuidado em prol da saúde mental e que também estimulam a população a
olhar ao redor para identificar que alguém próximo precisa de ajuda”, concluiu
a presidente da Abrata.
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