Gilmar Mendes desempata julgamento, e STF decide pela soltura de Sérgio Cabral - Sérgio Moro e Deltan Dallagnol repudiam soltura: ‘A Lava Jato não morreu’
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF),
votou, nesta sexta-feira, 16, pela revogação do último mandado de prisão do
ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral. O magistrado desempatou o
julgamento que ocorria no plenário virtual da Segunda Turma da Corte e se
juntou aos ministros André Mendonça e Ricardo Lewandowski.
O relator do caso, Edson Fachin, e o ministro Nunes Marques
votaram pela manutenção da prisão do político. Com isso, o ex-chefe do
Executivo fluminense, preventivamente preso desde novembro de 2016, permanecerá
em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica, em razão de decisão tomada
pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) em dezembro de 2021.
Cabral era o único alvo da Operação Lava Jato ainda em regime
fechado. A soltura, no entanto, depende do encerramento da sessão virtual, que
irá até 23h59, e do cumprimento de medidas burocráticas. Em nota, a defesa
representada pelos advogados Daniel Bialski, Bruno Borragine, Patrícia Proetti
e Anna Julia Menezes esclarece que Sérgio Cabral “permanecerá em prisão
domiciliar aguardando a conclusão das demais ações penais e confia em uma
solução justa, voltada ao reconhecimento de sua inocência e de uma série de
nulidades existentes nos demais processos a que responde”, informou.
“Ao que tudo indica, a manutenção da prisão preventiva não
mais se justifica para a garantia da ordem pública nem para a conveniência da
instrução criminal. Como bem afirmado pelo eminente Ministro André Mendonça, há
indícios concretos de que, no presente caso, o cárcere provisório se confunde
com um odioso cumprimento antecipado da pena, ao arrepio do princípio da
presunção de inocência e do entendimento firmado pelo Tribunal no julgamento
das Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43/DF, 44/DF e 54/DF”, diz um
trecho do voto de Mendes. “Os fatos imputados ao acusado não são novos, nem
mesmo contemporâneos , sendo insuficientes para justificar a segregação
cautelar”, escreve em outro momento. “Não bastasse essa impropriedade, chama
atenção que o réu está preso preventivamente desde 17.11.2016, ou seja, há mais
de 6 anos , a denotar manifesto excesso de prazo. Ao que tudo indica, a
manutenção da segregação cautelar do acusado tem servido como antecipação de
pena, o que contraria frontalmente a orientação jurisprudencial sedimentada
nesta Corte”, seguiu o decano do STF.
Os ministros analisavam dois pedidos da defesa de Cabral. Em
um deles, os advogados questionavam a legalidade da prisão preventiva do
ex-governador, preso no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em
Niterói, há cinco anos, sem que tenha havido uma decisão definitiva de seus
processos.
Na prática, a prisão serve como cumprimento antecipado da
pena, o que é proibido pelo Supremo Tribunal Federal. A prisão preventiva
oficialmente revogada pela Suprema Corte nesta sexta-feira era a última dos
cinco mandados que já pesaram contra Cabral desde 2016. O ex-governador foi
condenado em 23 ações penais, com penas que chegam a 425 anos e 20 dias de
prisão – não houve trânsito em julgado, isto é, a defesa ainda pode apresentar
recursos.
No outro caso, a maioria dos ministros (Edson Fachin, André
Mendonça e Nunes Marques) decidiu manter na Justiça Federal do Paraná,
especificamente na 13ª Vara Federal de Curitiba, o processo no qual o ex-chefe
do Executivo é acusado de receber propina por irregularidades em um contrato de
terraplanagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, da Petrobras.
Eleito governador do Rio de Janeiro por dois mandatos, Cabral
ocupou o cargo entre janeiro de 2017 e março de 2014. Antes, o político havia
sido eleito senador e deputado estadual.
Sérgio Moro
e Deltan Dallagnol repudiam soltura de Cabral: ‘A Lava Jato não morreu’
Nas redes sociais, o senador eleito Sérgio Moro (União
Brasil) e o deputado federal eleito Deltan Dallagnol (Podemos), expoentes da
Operação Lava Jato, repudiaram a soltura do ex-governador. Em seu Twitter,
Deltan escreveu: “Aconteceu. É o fim. O último preso da Lava Jato, e um dos que
mais representou a absoluta falência moral e a decadência da corrupção no
Brasil, foi solto pelo STF, com voto decisivo de Gilmar Mendes”.
“Sergio Cabral foi condenado a mais de 400 anos de prisão
pelos seus inúmeros crimes, mas isso não vale nada no Brasil. Mas não percamos
a fé. A Lava Jato não morreu, ela segue viva na luta de cada brasileiro que se
indigna com notícias como essa. Não iremos desistir de combater à corrupção:
lutaremos pelo Brasil!”, declarou o ex-procurador da República na noite desta
sexta.
Na manhã deste sábado, 17, Moro também se pronunciou sobre o
caso: “Sergio Cabral solto, a responsabilidade fiscal abandonada, as estatais
ameaçadas pela volta do loteamento político. Vivemos tempos desafiadores nos
quais a honestidade parece ter sido banida. Lutaremos no Senado para
restabelecer a verdade e a justiça. O seu apoio será fundamental”.
Sergio Cabral foi condenado a mais de 400 anos de prisão
pelos seus inúmeros crimes, mas isso não vale nada no Brasil.
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