As emendas de relator ao Orçamento-Geral da União,
identificadas pela sigla RP9 e conhecidas como "orçamento secreto",
desrespeitam os princípios da isonomia e da impessoalidade ao ocultar os
parlamentares que requereram as despesas. Além disso, desrespeita a exigência
de publicidade dos atos públicos.
Com esse entendimento, a presidente do Supremo Tribunal
Federal e relatora do caso, Rosa Weber, votou nesta quarta-feira (14/12) para
declarar a inconstitucionalidade do orçamento secreto. O julgamento será
retomado na sessão desta quinta (15/12).
Rosa também votou para ordenar que, no prazo de 90 dias,
órgãos públicos executaram, nos exercícios financeiros de 2020 a 2022, despesas
classificadas sob o indicador orçamentário RP9, divulguem dados referentes aos
serviços, obras e compras feitas com tais recursos.
A ministra
propôs a seguinte tese:
As emendas do relator geral do orçamento destinam-se
exclusivamente à correção de erros e omissões nos termos do artigo 166,
parágrafo 3º, inciso III, alínea ‘a’, da Constituição Federal, vedada sua
utilização indevida para o fim de criação de novas despesas ou de ampliação das
programações previstas no projeto de lei orçamentária anual."
"Captura
do Orçamento"
Em seu voto, Rosa Weber afirmou que o "orçamento
secreto" instituído em 2020 restaurou o modelo de emendas do relator que
possibilitou os esquemas de corrupção de PC Farias, dos "anões do
orçamento" e da "máfia dos sanguessugas".
"Não havendo como o Executivo contingenciar despesas
oriundas das emendas individuais ou de bancadas estaduais, as emendas de
relator tornaram-se o novo locus destinado às negociações reservadas à
construção de base de apoio do governo no Congresso. A garantia constitucional
da execução das emendas individuais e de bancada, portanto, não significou o
fim da barganha e da discriminação partidária no Brasil, como prometido em 2013
pelo presidente da Câmara. Retrata apenas o fato de que a crise na relação
entre o Executivo e o Legislativo tornou ainda mais caros e dispendiosos a manutenção
de uma base presidencial de apoio parlamentar no Congresso e o custo da
governabilidade no presidencialismo de coalização", apontou a ministra.
A presidente do Supremo destacou que informações prestadas
pelo Congresso Nacional demonstram que as emendas RP9 não eram ordenadas
somente pelo relator-geral do Orçamento, e sim por diversos parlamentares, que
enviavam os pedidos à secretaria de governo da gestão Jair Bolsonaro (PL)
"Por isso, trata-se de 'orçamento secreto', não se sabe
quem são os parlamentares integrantes do grupo privilegiado, não se conhecem as
quantias administradas individualmente, não existem critérios objetivos e
claros para a realização das despesas. Tampouco observam-se regras de transparência
na sua execução".
Segundo a relatora, o esquema revela a "progressiva
tomada do Orçamento federal por congressistas que compões a base do
governo". Devido à arbitrariedade e interesses pessoais envolvidos na
destinação dos recursos, o método representa "prejuízo grave à efetividade
das políticas públicas nacionais", disse Rosa.
O fato de o relator-geral do Orçamento ocultar a identidade
dos requerentes das emendas desrespeita os princípios republicano, da isonomia
e da impessoalidade, ressaltou a ministra. Além disso, destacou, viola a
exigência de publicidade dos atos da administração pública.
Prática de
governabilidade
As arguições de descumprimento de preceito fundamental foram
movidas pelos partidos Cidadania, PSB, PSOL e PV.
No fim de 2021, a relatora do caso, ministra Rosa Weber,
suspendeu os pagamentos das emendas de relator. Posteriormente, ela alterou sua
decisão para liberar a execução das verbas, desde que observadas regras de
transparência definidas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado. A liminar foi
referendada pelo Plenário.
O "orçamento secreto" é associado ao presidente
Jair Bolsonaro (PL) por adversários como um indício de corrupção no atual
governo, já que as emendas podem ser negociadas entre os deputados e senadores
para viabilizar a aprovação de projetos de interesse do Executivo.
Ofício de
Pacheco
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), enviou um
ofício ao STF nesta quarta, poucas horas antes do julgamento, informando que há
uma proposta em tramitação para aprimorar o pagamento das emendas de relator.
No entanto, Rosa Weber entendeu que a iniciativa não
prejudica o julgamento, tendo em vista os pedidos dos autores e o fato de a
proposta estar em tramitação, mas ainda não ter sido aprovada.
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