Campanha de incentivo à doação de sangue marca Dia Mundial do Doador - Lema este ano é Doe sangue, doe plasma, compartilhe a vida
Railana Dias da Cruz tem 28 anos e é moradora de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Nessa terça-feira (13), ela fez sua terceira doação no Hemorio, instituto que coordena a rede pública de sangue do estado do Rio de Janeiro. Railana pretende se tornar uma doadora regular. A primeira vez foi em 2020 e a segunda, em 2021. “Eu acho uma ação muito bonita. Tem pessoas que precisam. É muito gratificante a gente saber que pode salvar a vida de alguém, ajudar a sociedade de alguma maneira”. A decisão foi tomada diante do Dia Mundial do Doador de Sangue, comemorado nesta quarta-feira (14).
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o
lema da campanha este ano é "Doe sangue, doe plasma, compartilhe a vida,
compartilhe com frequência". A iniciativa faz alusão ao Junho Vermelho,
mês de conscientização sobre a doação.
Ronald Gomes doa sangue desde 1978, quando entrou para o serviço militar. E não parou mais. Quando não está doando no Hemorio, doa em outro hospital, para atender à necessidade de algum parente ou amigo. A maioria de seus irmãos também doa. Além de sangue, Ronald é doador de plaquetas e medula óssea. Ser um doador regular significa, para ele, salvar vidas. “Acho muito importante fazer esse ato cívico. Nós estamos salvando vidas. É o mesmo que estar salvando uma pessoa com medula óssea. O sangue serve para tudo isso. Então, acho interessante que as pessoas doem sangue”. Ronald Gomes já tem carteirinha de doador regular do Hemorio.
Segundo Elisa Gomes, hematologista e hemoterapeuta do Hospital
Márcio Cunha (HMC), as campanhas são necessárias para a conscientização do
doador voluntário. “Quem doa sangue está ajudando a salvar vidas”. Ela disse
que por mais que haja avanços na medicina e na ciência, o sangue é
matéria-prima insubstituível. “Não há nada que faça o papel do sangue”. É ele
que leva oxigênio para os tecidos, defende o organismo humano contra infecções
e é responsável pela coagulação, comentou. O HMC é um hospital geral de alta
complexidade, localizado em Ipatinga (MG). Tem 548 leitos e três unidades,
sendo uma unidade exclusiva para o tratamento oncológico. Atende a uma
população de mais de 800 mil habitantes, no leste de Minas Gerais.
Segurança
O diretor-geral do Hemorio, Luiz Amorim, informou que os
estoques, no momento, estão entre 10% e 15% abaixo do necessário. “Por isso, a
campanha vem a calhar e vai ser providencial para a gente ter uma melhoria nos
estoques, porque julho é mês de férias, as pessoas viajam e sempre caem as doações,
em comparação com junho”.
Nessa segunda-feira (13), entraram em torno de 30 bolsas de
doação. O ideal, para dar segurança, na hipótese de ocorrência de alguma
tragédia, é ter estoque suficiente para cinco dias. No momento, o estoque é
para quatro dias. “O ideal mesmo é que tenha para cinco. A gente precisa
melhorar porque, com o fim da pandemia de covid-19, os hospitais estão cheios,
as cirurgias foram retomadas, os tratamentos que ficaram parados foram
reiniciados. Hoje, a demanda de sangue é até maior, porque procedimentos
complexos que não foram feitos em 2021 e 2022 estão sendo realizados agora e a
demanda por sangue aumenta”.
Do total de doadores do hemocentro fluminense, 40% são regulares e 25% vão a cada dois anos. “Somando os doadores habituais com aqueles que não vêm em todos os anos, a gente tem perto de 70%. Nosso trabalho é transformar os doadores de primeira vez em doadores habituais e oferecer uma experiência que seja agradável a eles. A gente precisa de doadores habituais para que não seja preciso fazer campanhas nem apelos”, afirmou Amorim.
No Brasil
No Brasil, apenas entre 1,6% e 1,9% da população é doadora de
sangue. Em países da Europa, esse índice chega a 5%. De acordo com o Ministério
da Saúde, 14 em cada mil brasileiros doam sangue de forma regular nos
hemocentros do Sistema Único de Saúde (SUS). Para Luiz Amorim, é muito pouco.
“Nós precisaríamos, pelo menos, de 2,5% a 3%. Globalmente, o número atual é
muito baixo para a complexidade da medicina do Brasil e, pelo fato de a
população brasileira ser cada vez mais idosa, há maior necessidade de sangue. A
gente precisa melhorar e aumentar a doação”.
Para o diretor-geral do Hemorio, o grande problema atualmente é a doação centralizada no instituto, localizado no centro da cidade. “Isso não funciona também. As pessoas têm dificuldade de se deslocar, é muito longe, perdem tempo no transporte. Então, cada vez mais a gente está tentando descentralizar”. Todos os dias, o Hemocentro destaca duas equipes de coleta móvel para atender o público doador nas empresas e igrejas. “Porque, aí as pessoas aderem com muito mais facilidade”. Amorim disse que mais da metade do sangue do Hemorio é proveniente das coletas móveis. A meta do diretor-geral é, até o fim deste ano, inaugurar mais dois postos fixos de coleta na capital, sendo um na Barra da Tijuca e outro em Jacarepaguá, bairros da zona oeste, e um terceiro posto fixo em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ele acredita que, com isso, a doação vai aumentar.
Amorim lembrou que, hoje, a doação de sangue não é mais um
mito, nem dá medo à população. Aproveitando o Dia Mundial do Doador de Sangue,
ele estimulou as pessoas a doar. “Porque, sem essa doação, a gente não consegue
ter estoque adequado e os hospitais não conseguem fazer cirurgias, tratar
adequadamente os pacientes. Nada substitui a doação de sangue, mesmo que ela
seja feita a cada três ou dois anos. Qualquer doação é útil. A gente anima a
população a continuar doando e a aumentar o número de doações”.
Como doar
Para ser um doador, é preciso ter entre 16 e 69 anos, pesar 50 quilos, no mínimo, estar bem de saúde e apresentar documento de identidade oficial com foto. Jovens com 16 e 17 anos só podem doar sangue com autorização dos pais ou responsáveis legais. A autorização pode ser acessada no site doHemorio. Na faixa etária de 60 a 69 anos, as pessoas podem doar, desde que tenham feito alguma doação anterior. Não é necessário estar em jejum, mas deve-se evitar comer alimentos gordurosos nas quatro horas que antecedem a doação e não ingerir bebidas alcoólicas 12 horas antes.
Tatuagem e piercing impedem a doação por seis meses. O
Hemorio alerta que a perfuração na região oral ou genital ainda segue como
impeditivo para doações enquanto houver uso da peça. Informações podem ser
obtidas pelo número gratuito 0800 282 0708. O diretor lembrou que quem quiser
pode agendar dia e hora para doar, nesse mesmo telefone, ou pelo site. “É muito
mais rápido e o processo é bem mais simples”.
Algumas situações, porém, impedem provisoriamente a doação de
sangue. Entre elas, estar com febre ou gripado. Grávidas também não podem doar.
O mesmo se aplica para quem fez extração dentária há sete dias. Mulheres que
estejam amamentando só podem doar depois de um ano após o parto. Quem fez
vacinação pode doar, respeitado o intervalo, que pode ser de 48 horas para
vacinas contra a gripe e para a vacina Coronavac contra covid. Para as demais
vacinas contra a covid-19, o intervalo é de uma semana.
Rota solidária
Para ajudar no reforço aos estoques de sangue do Hemorio, as
empresas do setor de mobilidade do estado do Rio se uniram em parceria inédita,
visando viabilizar a integração entre os doadores e o Instituto. Batizada de
Rota Solidária, a ação faz parte do Junho Vermelho e será lançada nesta
quarta-feira (14), Dia Mundial do Doador de Sangue. Integram a iniciativa as
concessionárias MetrôRio, VLT Carioca, Semove e SuperVia, além da empresa de
tecnologia 99. Juntas, essas empresas disponibilizaram 6.350 gratuidades para a
campanha.
Para participar da Rota Solidária, os doadores devem se
dirigir ao Hemorio e informar qual modal utilizaram para chegar ali. Eles
receberão duas passagens para cobrir os gastos com o deslocamento. Caso decidam
utilizar a 99, basta acessar o aplicativo e inserir o cupom SALVARVIDASRJ a fim
de garantir 50% de desconto em até duas corridas para ir e voltar do Hemorio. O
limite é de R$ 8 por viagem. Além disso, colocando a palavra “Salvar Vidas” na
opção de destino do aplicativo, aparecerá o endereço direto do instituto. Ao
todo, 5 mil vouchers serão disponibilizados.
A iniciativa conta ainda com o apoio da Rodoviária do Rio e
do Riogaleão, cujos espaços serão utilizados para chamar a atenção dos
visitantes que chegam à cidade. A expectativa da campanha é reforçar os
estoques do Hemorio, atendendo mais de 25 mil pessoas e considerando que cada
bolsa pode salvar até quatro vidas. Outras ações também estão previstas durante
o mês, entre as quais o sorteio de ingressos para festas e distribuição de
brindes aos doadores.
O diretor-geral do Hemorio disse que esta é a primeira
parceria entre os modais, em todo o país, por uma boa causa. Amorim acredita
que a Rota Solidária tem tudo para se tornar uma ação tradicional, “já que tem
a cara do morador do Rio, sempre disposto a ajudar o outro”. Para ele, a
iniciativa poderá inspirar outras ações semelhantes pelo Brasil.
Após a doação
De acordo com informações do Hemorio, após a doação, a bolsa
de sangue total é centrifugada e separada em três componentes: concentrado de
hemácias, concentrado de plaquetas e plasma. São realizados exames
laboratoriais para determinação do grupo sanguíneo e para detecção de doenças
transmissíveis pelo sangue. Depois desses exames, a bolsa de sangue é liberada
para transfusão. O sangue é utilizado principalmente nas grandes emergências,
que incluem acidentes de trânsito, ferimentos por armas, hemorragias agudas,
entre outros, além de cirurgias e pacientes com doenças oncológicas e
hematológicas. O Hemorio distribui sangue para mais de 200 hospitais públicos e
conveniados com o Sistema Único de Saúde (SUS) do estado.
Cada pessoa tem, em média, cinco litros de sangue. É seguro
doar, porque o material usado é estéril, descartável e de uso individual. Além
disso, o doador passa por uma consulta, antes de doar, onde são avaliadas as
condições clínicas. O organismo repõe o volume de sangue doado no mesmo dia.
Para isso, o Hemorim recomenda beber bastante líquido.
O sangue tipo O Negativo é considerado "universal"
porque pode ser transfundido em qualquer pessoa, salvo em raríssimos casos. É o
sangue que salva nas situações de emergência. No Brasil, apenas 5% da população
têm esse tipo sanguíneo. Por isso, os hemocentros encontram muita dificuldade
em manter estoques regulares desse tipo de sangue.