Com apoio da Fapesp, empresa brasileira produzirá ventiladores pulmonares nos EUA - A fabricante Magnamed, fundada em 2005, em São Paulo, recebeu a chancela das autoridades norte-americanas para iniciar a produção na Flórida
O OxyMag foi desenvolvido com apoio do Programa FAPESP
Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), entre 2006 e 2012.
O rigoroso processo de certificação nos EUA, iniciado em
2019, interrompido em 2020 devido à pandemia de COVID-19 e retomado em 2021,
chegou ao fim com uma aprovação que transformou a Magnamed na primeira
fabricante brasileira de ventiladores pulmonares no mercado norte-americano.
Para alcançar a certificação, a empresa investiu mais de US$ 1 milhão em
laboratórios, consultores, protótipos, linha-piloto, viagens. Além disso, está
montando um time de atendimento e vendas.
Com a aprovação, a Magnamed deve iniciar a produção local a partir de 2024, uma vez que a nova planta industrial, alugada em 2023, na Flórida, está pronta para operar. A previsão é que sejam produzidas até cem unidades do ventilador OxyMag por mês, com foco total no mercado local. Estima-se que em todo o mundo o setor movimente US$ 5,7 bilhões anualmente e aproximadamente 20% só nos EUA.
“Estamos muito felizes com a notícia da aprovação do FDA. Foi
um objetivo pelo qual lutamos por muito tempo e que nos faz ter muito orgulho
de sermos uma empresa brasileira conseguindo um feito inédito nos Estados
Unidos. Esperamos que esta seja a primeira de muitas conquistas deste tipo e
que a nova fábrica possa ajudar a mostrar ao mundo que produzimos inovação real
no setor médico-hospitalar”, disse Wataru Ueda, sócio-fundador e CEO da
Magnamed, em nota à imprensa.
Desde 2010 a companhia já obteve a chancela do órgão
regulador da Comunidade Europeia e as exportações já representam uma parcela
significativa das vendas. Cerca de 40% dos ventiladores se destinam ao mercado
privado, 30% da produção ao setor público nacional e 30% da produção é
exportada. Somando-se a aprovação do FDA, a Magnamed passa a operar em
praticamente todos os mercados.
A meta é que as exportações representem 80% do faturamento
até 2026 – alcançando R$ 180 milhões. Contudo, para isso acontecer, é
importante ter produtos certificados internacionalmente. Em seu histórico, a
Magnamed já registra exportações para 81 países de todo o planeta.
Aumento da competitividade
Ueda ressalta que, além de trazer mais receitas para a
Magnamed, as exportações têm uma contribuição muito importante na
competitividade.
“É necessário obter diversas certificações internacionais,
tanto para o produto como para os processos de fabricação e gestão da qualidade.
O mercado brasileiro, por ser totalmente aberto, exige da empresa atualização
tecnológica constante para se manter competitivo e, para isso, nada melhor do
que competir no cenário mundial”, avalia.
A vida útil de um ventilador é de sete anos nos EUA, contra
dez anos no resto do mundo. Com a fábrica, a Magnamed aumenta a demanda por
reposição. Existe também uma preocupação dos países em estar abastecidos com
esse tipo de produto, o que provoca um movimento no exterior pedindo fabricação
local.
“Estamos fazendo parcerias para fabricar na Índia e no
México, entre outros países, para que possamos fornecer tecnologia e
conhecimento para eles não dependerem tanto das importações”, explica Ueda.
Inovação constante
Em novembro de 2022, a Magnamed anunciou o desenvolvimento de
um sistema de monitorização de ventilação mecânica inédito no mundo, a PMUS. Em
estudo desde 2017, a nova solução usa machine learning e inteligência
artificial para resolver problemas de assincronia entre máquina e paciente. A
empresa investiu R$ 4 milhões na pesquisa, com recursos da Lei de Informática.
O novo sistema em breve pode revolucionar a produção desse
tipo de equipamento globalmente. Um pequeno hardware e um novo software baseado
em algoritmos de machine learning e inteligência artificial resolvem um
problema que atualmente só é solucionado por outros produtores de forma
invasiva, com a introdução de um balão ou eletrodos no esôfago.
Em parceria com médicos, a Magnamed encontrou uma solução por
meio da análise de dados para entender e estimar o esforço exercido pelos
músculos respiratórios. Trata-se de uma máquina que “aprendeu” como se calcula
essa pressão muscular, que permite analisar se o ventilador está em sincronia
ou não. Assim foi possível reconstruir a pressão negativa que o diafragma gera
para colocar o ar dentro do pulmão, a chamada PMUS, que até hoje só podia ser
medida de forma invasiva.
Expansão
Fundada em 2005 pelos engenheiros Wataru Ueda, Tatsuo Suzuki
e Toru Miyagi, a empresa recebeu em 2008 um primeiro aporte do fundo Criatec,
do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por meio da
gestora KPTL. Naquele período, ainda estava incubada no polo de startups da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), o Cietec. Em 2015,
recebeu uma segunda injeção de capital, do fundo de impacto social Vox Capital.
Os fundos Criatec e Vox somados detêm 54% da companhia. Além do aporte
necessário, colaboram na governança da empresa, de acordo com os executivos da
Magnamed.
A expansão de 2020 ocorreu quando a demanda por seus
respiradores disparou em razão dos efeitos da pandemia sobre o sistema de
saúde. Para dar conta do aumento de produção, Wataru Ueda acionou sua rede de
contatos de antigos colegas de turma do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA), a exemplo de Walter Schalka, que comanda a Suzano, pedindo auxílio nessa
fabricação. Outros pesos pesados da indústria nacional, como a Embraer, se
juntaram nesse esforço e possibilitaram a ampliação da produção. O resultado
foi o crescimento vertiginoso da empresa e o desdobramento em planos de
internacionalização (leia mais em https://pesquisaparainovacao.fapesp.br/1347).
*Veja mais acessando Estado de São Paulo
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