Festival Cultura e Pop Rua começa hoje na capital paulista - Encontro é organizado por movimentos sociais e instituições culturais
São Paulo é a maior cidade da América Latina e, ainda assim, a disputa por espaços e a marginalização de uma parcela de pessoas parecem não terminar. Com o objetivo de proporcionar, ao menos, um canto de alegria, arte e lazer às pessoas em situação de rua na capital, começa hoje (16) o Festival Cultura e Pop Rua, organizado por coletivos, movimentos sociais, instituições culturais, pelo Museu da Língua Portuguesa e o Sesc SP, em conjunto com a prefeitura municipal.
O festival tem início com o minicurso Ações e estratégias para
a ação cultural com a população em situação de vulnerabilidade social,
ministrado por integrantes do Arts & Homelessness International (AHI) e que
conta com a participação de Patrick Chassignet, chefe do setor Da rua à
moradia, do Departamento de Missões Sociais da Fundação Abbé Pierre. O público
também poderá assistir à peça Cena ouro - Epide(r)mia, da Cia. Mungunzá, no
Teatro de Contêiner, às 19h.
Um dos lugares que compreendem que a população em situação de rua merece mais do que itens básicos de sobrevivência e que hoje também realiza o encontro Poesia, Boteco e Cinema em Fluxo, no âmbito do festival, a partir das 17h30, é o Bar da Nice, comandado pela empresária Nice Souza, de 49 anos. O local tornou-se um ponto de referência, tanto em termos de resistência e cultura como de acolhimento e humanização de usuários de drogas da região batizada de Cracolândia. A Cracolândia, com frequência, tem tido que lidar com a chegada de policiais e sua deflagração de guerra contra o tráfico e o que mais a abordagem dos agentes implique, o que geralmente significa truculência.
Nice cede espaço à realização de saraus, à exibição de filmes
e pagode aos dançantes. Além disso, deixa à disposição da clientela livros de
poesia, mais uma vez demonstrando que está de corpo e alma na mobilização
mundial em defesa dos direitos das pessoas em situação de rua.
Em entrevista concedida à Agência Brasil, Nice comentou como seu bar acabou virando um lugar dos que mais contribuem para a política de redução de danos entre os usuários de drogas da região, objetivo que, muitas vezes, o sistema de saúde, de modo geral, não consegue atingir. Ex-prostituta e nascida em Belo Horizonte, a empresária permite que se perceba o que faz toda a diferença é a fineza, a brandura e o respeito pelo outro. "Eu me tornei isso pela empatia de oferecer um banho, uma comida. Não vendo a comida, eles comem comigo", resume ela, sem querer, quanto ao que representa em um contexto de tanta violência.
"Eles dizem: madrinha, deixa eu fazer alguma coisa
[ajudar] ou ficar um tempinho aqui?", acrescenta ela, ao defender que a
principal medida a beneficiar o grupo é oferecer moradia, já que, pela sua
experiência de mulher rejeitada pela mãe, que fervia os copos após ela usar e
disse que "a porta é a serventia da casa", por não aceitar que fosse
profissional do sexo, muitas dessas pessoas não desejam voltar a morar com a
família que têm.
A história de Nice em meio a balcão de atendimento, mesas, mordidas em petiscos e o tilintar de vidros teve início pouco antes da pandemia de covid-19. Um amigo seu fez proposta a ela, já que sua esposa desistiu de tocar o negócio do casal.
Nice topou o desafio. Certo dia, logo depois de assumir o
comando do comércio, a polícia realizou uma operação na Cracolândia, para
dispersar o fluxo de usuários. Alguns dos usuários se refugiaram no bar,
esperando a poeira de violência baixar.
Então, seis meses antes da crise sanitária, Nice resolveu fazer o primeiro evento do bar com a população em situação de rua. "Eles gostam de ser reconhecidos", afirma. "Tem tanto talento aqui."
A organização do evento também pensou em ações de serviço à
população, como vacinação e regularização de documentos. Quem quiser conferir
toda a programação do festival pode acessar o perfil no Instagram.
Comentários
Postar um comentário
Olá, agradecemos a sua mensagem. Acaso você não receba nenhuma resposta nos próximos 5 minutos, pedimos para que entre em contato conosco através do WhatsApp (19) 99153 0445. Gean Mendes...