Mortes por PMs em serviço aumentam 26% em SP no primeiro semestre - Total de ocorrências subiu de 122 para 155
O número de mortes provocadas por policiais militares em serviço cresceu 26% no primeiro semestre deste ano no estado de São Paulo. O total de ocorrências subiu de 123, nos primeiros seis meses do ano passado, para 155, em igual período deste ano, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Os casos cresceram apesar de vários batalhões policiais de
São Paulo já estarem adotando as câmeras operacionais portáteis - conhecidas
como câmeras corporais, que começaram a ser utilizadas pela Polícia Militar
paulista em 2020. Essas câmeras de lapela são fixadas nos uniformes dos
policiais para que suas ações nas ruas sejam monitoradas. O objetivo dessas
câmeras é reduzir a violência policial.
“O aumento de 26% no número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no primeiro semestre de 2023 em relação ao mesmo período do ano passado é alarmante e traz bastante preocupação. Precisamos entender melhor esse fenômeno, mas tudo indica que os mecanismos de controle do uso da força [como as câmeras corporais e o uso de armas menos letais], que foram tão bem-sucedidos desde que foram implementados em meados de 2020, estão sendo enfraquecidos”, disse o pesquisador do Instituto Sou da Paz Rafael Rocha.
Em entrevista à Agência Brasil, Rocha reforçou que as câmeras
corporais são um instrumento, mas “que sozinhas não dão conta” de resolver o
problema de letalidade policial. Para ele, o atual governo paulista parece
querer reduzir a utilização do equipamento, diminuindo outros instrumentos que
são necessários para análise das imagens produzidas por elas. “Nos parece que,
em 2023, a estratégia não é retirar as câmeras, mas enfraquecer os mecanismos
de controle, como as comissões e sindicâncias. Você corrói essa estrutura que
dá suporte para análise e responsabilização do material que é produzido pelas
câmeras corporais”, disse.
Mortes por policiais civis
O balanço do semestre demonstra também crescimento no número
de pessoas mortas por policiais civis em serviço. Nesse caso, o aumento foi de
60%, passando de dez mortes no primeiro semestre de 2022 para 16 no mesmo período
deste ano.
Com isso, as mortes provocadas por policiais civis e
militares em serviço totalizaram 171 ocorrências nos seis primeiros meses deste
ano, contra 133 no ano passado.
Somando-se também as mortes provocadas por policiais civis e
militares que estavam de folga, esse total passa para 221 mortes, contra 202
que ocorreram no mesmo período do ano passado.
Entre janeiro e junho deste ano, 15 policiais civis e
militares foram mortos no estado paulista. Desse total, sete estavam em serviço
e oito em folga. Nesse mesmo período do ano passado, 17 policiais foram mortos,
sendo que 13 deles estavam de folga.
Operação Escudo
Só neste final de semana, durante uma operação policial
ocorrida em Guarujá, deflagrada após o assassinato do policial Patrick Bastos
Reis, pelo menos oito pessoas foram sido mortas. O número foi confirmado nesta
segunda-feira (31) pelo governo de São Paulo, embora a Ouvidoria das Polícias
do Estado de São Paulo fale em dez mortos.
A operação, hamada de Escudo, começou após o assassinato do
policial Patrick Bastos Reis, soldado das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar
(Rota), em 27 de julho, durante patrulhamento. Durante a operação, dez pessoas
foram presas. Uma delas é o suposto atirador que provocou a morte do policial.
“Nós não vamos deixar passar impune agressão a policial. Não é possível que o
bandido, que o criminoso possa agredir um policial e sair impunemente, então
nós vamos investigar, nós vamos prender, nós vamos apresentar à Justiça, nós
vamos levar ao banco dos réus. Foi isso exatamente que foi feito nesse fim de
semana. Estou extremamente satisfeito com a ação da polícia”, disse o governador
de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Para o pesquisador do Instituto Sou da Paz, no entanto, podem ter ocorrido excessos na condução dessa operação policial em Guarujá. “Todos os indícios apontam que houve excessos na atuação das polícias”, disse ele. “Houve denúncias formalizadas na Ouvidoria [das Polícias] de tortura, inclusive que teria ocorrido tortura em uma das pessoas que foi assassinada. O próprio número de mortes está em debate. A secretaria fala em oito mortos na operação, o que é muito, e a Ouvidoria fala em dez vítimas. Até isso estamos tentando entender”, disse.
Para ele, a operação aparentemente foi feita “sem nenhum
planejamento, onde a corda, em alguma medida, foi solta e os policiais tiveram
a liberdade para agir de maneira extremamente violenta e com excesso de força
que não parece necessária. E que é improdutiva”.
“Uma operação policial bem planejada, com uso de
inteligência, com objetivos claros e com alvo claro, é muito menos violenta e
coloca muito menos pessoas em risco seja da comunidade ou entre os policiais. E
não foi isso que a gente viu, infelizmente, no último final de semana, no
Guarujá”, acrescentou Rocha.
Mortes de
policiais
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública de São
Paulo informou que, no primeiro semestre deste ano, as forças policiais
detiveram 95.394 pessoas, o que representou aumento de 8,4% em relação ao ano
anterior. “Em 99,76% dessas ocorrências não houve registro de mortes em
confronto. Os números mostram que a principal causa das mortes decorrentes de
intervenção policial não é a atuação da polícia mas, sim, a opção do confronto
feita pelo infrator, que subjuga as vítimas, colocando-as em risco, assim como
todos os participantes da ação”, disse a pasta.
“Todos os casos dessa natureza são rigorosamente investigados
pelas respectivas corregedorias, encaminhados ao Ministério Público e julgados
pelo Poder Judiciário. A pasta continua investindo de forma contínua no
treinamento do efetivo e na implementação de políticas públicas para reduzir as
mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP), que incluem o aprimoramento
constante dos cursos e treinamentos”, acrescentou a secretaria.
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