Operação contra Zambelli e ‘Vermelho’ também pega assessor de irmão da deputada e outro hacker da Vaza Jato
A operação deflagrada hoje por Alexandre de Moraes contra
Carla Zambelli e o hacker Walter Delgatti, o Vermelho, também tem como alvos
Thiago Eliezer, outro hacker envolvido na Vaza Jato, e os assessores
parlamentares Jean Hernani Vilela, do gabinete de Zambelli, e Renan Cesar
Goulart, assistente do deputado estadual Bruno Zambelli, irmão da deputada
federal. Todos tiveram seus sigilos bancários suspensos por ordem do ministro,
acolhendo pedido da Polícia Federal. Delgatti foi preso preventivamente, os
demais sofreram busca e apreensão em seus endereços pessoais e profissionais.
Segundo relatório da PF, mencionado na decisão de Moraes, Goulart teria
transferido via PIX a quantia de R$ 10,5 mil ao hacker, enquanto Vilela teria
pago outros R$ 3 mil, também por PIX — em outubro de 2022 e janeiro de 2023,
respectivamente. Eliezer é apontado por Delgatti como responsável por emitir
alvarás de soltura falsos pelo sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A PF trabalha com a hipótese de que Delgatti, a pedido de Carla Zambelli, teria invadido sistemas informáticos do CNJ, “com o objetivo de expor eventuais vulnerabilidades dos sistemas do Poder Judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação gerenciado pelo Tribunal Superior Eleitoral”. Além disso, o hacker teria incluído no sistema do CNJ mandado de prisão em desfavor do ministro do Supremo, e ainda viabilizado, com apoio de Thiago Eliezer, a emissão de alvarás de soltura de vários presidiários. O caso começou a ser investigado na Justiça Federal do DF, mas acabou remetido ao STF por suposto envolvimento de autoridade com foro de prerrogativa de função, no caso, a deputada federal do PL.
Em coletiva há pouco, Zambelli negou envolvimento com os
crimes e alegou que pagou o hacker para realizar melhorias em seu site. “O que
eu tinha subcontratado era melhorias no site, questão de firewall e ligar
minhas redes sociais ao site. Ele não conseguiu realizar essa tarefa”, alegou.
Segundo ela, Delgatti lhe pareceu uma “boa pessoa” e dizia que estava passando
“por momentos difíceis”, por isso não cobrou a devolução do dinheiro pelo
serviço não prestado. “Eu não fraudaria eleições para o Lula ganhar e nem seria
tão barato assim.” Para a deputada, as acusações seriam mais uma tentativa de
“envolver o presidente” num plano golpista. Ela confirmou que levou o hacker
para um encontro com Bolsonaro, que o teria questionado sobre a segurança das
urnas.
Em depoimento à PGR, Delgatti afirmou “ter sido o responsável
pela invasão do sistema do CNJ, sendo que fez vídeos, prints e criou um PDF com
o passo-a-passo demonstrando como invadiu, sendo que tudo isso está no seu
computador (…) que a invasão começou, salvo engano, em setembro de 2022, sendo
que, até a presente data, o declarante ainda possui acesso a determinados
sistemas do CNJ, a exemplo do SINAPSE, CODEX, SISBA]UD, NEXUS e KEYCLOAK
(inteligência artificial) etc; que o declarante sabia de um bug no site do
GITHUB, que dava acesso a arquivos ‘secrets’ e arquivos que armazenam chaves e
tokens de APis, que são acessíveis apenas ao proprietário do código”. Segundo a
PGR, Vermelho “afirmou que a deputada federal teria se aproximado dele, em
setembro de 2022, pois queria que ele invadisse uma eletrônica, ou qualquer
sistema da Justiça Brasileira, para demonstrar a fragilidade do sistema
judicial”.
“(…) QUE o declarante não conseguiu
invadir o TSE, mesmo após diversas tentativas, pois o código fonte da Urna
Eletrônica não fica hospedado em um computador com acesso à Internet, mas fica
em um computador offline, não sendo possível o acesso externo ( … )’”, relata o
Ministério Público. E que, então, Zambelli lhe teria pedido para “obter
conversas comprometedoras do ministro Alexandre de Moraes, invadindo seu
aparelho celular e seu email”, o que também não ocorreu, apesar de supostas
tentativas de cooptação de funcionários de empresas de telefonia. Segundo
Moraes, a “a conduta do investigado, narrada pela Polícia Federal, revela-se
ilícita e gravíssima”.
*JP
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