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Governo brasileiro entra de cabeça nas eleições argentinas com medo de perder aliado importante na América Latina

Ministro da Economia e candidato à presidência, Sergio Massa se reuniu com Lula e Haddad nesta semana, em plena campanha eleitoral, e conseguiu um acordo de US$ 600 milhões em investimentos para exportações

No dia 22 de outubro, os argentinos vão às urnas escolher o novo presidente do país. Pesquisas realizadas após as primárias apontam que deverá haver um segundo turno entre Javier Milei, do A Liberdade Avança, e Sergio Massa, do União pela Pátria. Uma disputa entre um candidato que se denomina “anarcocapitalista” — e é visto como extremista — e o atual ministro da Economia, que representa o peronismo. Apesar da votação ser no país vizinho, o Brasil se manterá atento aos resultados, pois a aliança corre risco de ser enfraquecida em um momento em que o governo brasileiro trabalha para fortalecer a parceira que havia sido “encerrada” durante o mandato anterior. Milei, que também leva o título de Bolsonaro argentino — ele também é apoiador de Donald Trump —, já informou que, se assumir a Casa Rosada, vai cortar laços com países governados pela esquerda, como é o caso do Brasil, que atualmente tem o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como líder. Por mais que não tenha declarado publicamente, Lula apoiará Massa nas eleições presidenciais. Inclusive, o encontro realizado nesta semana com o presidente brasileiro e Fernando Haddad, ministro da Fazenda, de onde saiu com um acordo de US$ 600 milhões em investimentos para exportações, foi visto como uma tentativa de busca de apoio, não só para evitar uma recessão o país, como uma possível derrota histórica da esquerda na Argentina. Vale lembrar que, além de ministro, Massa também está em campanha eleitoral.

 


“A tentativa de interferência brasileira nas eleições argentinas é, de um certo modo, recorrente. Vejo claramente, por essa razão, uma ligação do governo brasileiro em tentar eleger um governo mais alinhado a si, que é o governo peronista”, destaca Marcio Coimbra, presidente do Instituto da Democracia. O especialista também lembra que o atual ministro da Economia não é um peronista raiz. “O Massa é um cara que já transitou por diversas matrizes políticas argentinas. Ele já foi ligado ao grupo do ex-presidente Maurício Macri e agora ele está com os peronistas.” Com uma vitória de Milei, a Argentina ficaria mais próxima do presidente do Uruguai (Lacalle Pou) e do Paraguai (Santiago Peña), enquanto as relações com o governo brasileiro sofreriam tensão. Contudo, apesar dessa possibilidade, Coimbra pontua que o Brasil deve respeitar, como a sua constituição coloca, a autodeterminação dos povos, pois, não cabe ao governo interferir em assuntos internos de outro país, especialmente os eleitorais. “Me parece que essa proximidade geográfica que a gente tem acaba levando a uma preferência e uma movimentação do governo brasileiro, seja ele de esquerda ou de direita. Mas isso é errado. Devemos deixar a Argentina decidir seu próprio destino”, diz o especialista. Jà Eduardo Fayet, consultor e especialista em relações institucionais e governamentais, afirma que o Brasil precisa acompanhar de perto as eleições, porque qualquer resultado gerará impactos à geopolítica, às relações diplomáticas, e, sobretudo, às relações econômicas que os dois países têm.

“Argentina, do ponto de vista econômico, é o terceiro maior comprador de produtos brasileiros. Eles são um player bastante importante, do ponto de vista comercial e político, histórico”, fala Fayet, pontuando que qualquer ruptura na aliança entre as nações causará perdas para os dois lados. Contudo, destaca que a Argentina será a que mais vai sair prejudicada. “Eles têm uma economia muito mais frágil, estão em uma condição de economia debilitada e muito menor em relação ao Brasil. Quando olhamos do ponto de vista geográfico, também têm uma posição menos privilegiada”, explica Fayet, acrescentando que o Brasil é um país continental, que vai praticamente de boa parte do hemisfério sul até a linha do Equador, passando por dois trópicos. “É um país de dimensões enormes, com ligações muito próximas à Europa, aos Estados Unidos, que são os grandes centros consumidores, e também muito próxima da África. A Argentina está do outro lado da América Latina”.


Antes de se encontrar com Lula e Haddad, Sergio Massa anunciou medidas para tentar fortalecer o consumo, limitar o impacto da desvalorização do peso e enfrentar a inflação, que supera 100% ao ano. “O objetivo central é que cada um dos setores da economia tenha, de alguma forma, o apoio do Estado”, afirmou Massa, em rede social. “A Argentina tem um empréstimo junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional) desde 2018, que forçou uma desvalorização da nossa moeda nos últimos dias, e a pior seca da nossa história, que prejudicou nossas reservas e contas, mas que também atingiu a economia de muitas famílias”, ressaltou o ministro. Sua fala encontrou eco em Lula, que culpou o governo de Macri, que antecedeu o de Alberto Fernández, pela crise econômica argentina. “Eu fico preocupado de saber como é que um país tão importante como a Argentina, um país que já foi a quinta economia do mundo, chega na situação econômica na qual está hoje. Tudo isso muito em função de uma dívida contraída por um outro governo e que ficou para o atual pagar essa dívida”, discursou o petista.

Mesmo em meio a essa crise econômica que assola o país há anos e enfraqueceu o peronismo na Argentina, Massa, que ficou em terceiro lugar nas primárias, aparece nas pesquisas para disputar à presidência em um possível segundo turno, marcado para acontecer em 19 de novembro. Para os especialistas ouvidos pela Jovem Pan, mesmo em um momento desfavorável, o peronismo na Argentina é um elemento constituinte da sociedade. “Ele não é uma característica transitória, é bastante permanente. Claro que pode ser que esteja se enfraquecendo, mas já está bastante permanente, porque dura mais de 50 anos, quase 70”, ressalta Fayet, acrescentando que seu enfraquecimento não é algo que acontece só na Argentina. Outras regiões do mundo também têm passado por instabilidade política, o que gera “espaço para algumas radicalizações bastante evidentes, devido à insatisfação, por causa da incapacidade de governos de muitas naturezas não darem a resposta necessária ao imediatismo das demandas da população”.


Coimbra destaca que até a eleição haverá aumento da tensão no país. “Já vimos o surgimento de saques, algo que desafia a ordem pública. E, ao mesmo tempo, a Argentina pode vir a tomar medidas radicais, especialmente na área da economia, para fortalecer a candidatura do Massa”, aponta. Uma série de saques a supermercados e lojas na Argentina, supostamente organizados por grupos de bairros populares, deixou quase 200 detidos e alimenta o debate político em meio a uma disparada inflacionária. O presidente do Instituto da Democracia lembra que os dois atuais candidatos apontados para concorrer ao segundo turno têm relação com área econômica. Javier Milei é economista, e Sergio Massa, ministro. “Pode haver tentativas de manobras econômicas milagrosas semanas antes da eleição para tentar desestabilizar o quadro eleitoral. A economia é uma pauta da Argentina, a pauta que domina todas as outras. E todas as outras pautas que a gente tem são derivadas da economia.”



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