Lula diz que não quer 'Forças Armadas nas favelas brigando com bandido' – e que não vai assinar decretos de "garantia da lei e da ordem" enquanto for presidente
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta
sexta-feira (27) que, enquanto for presidente, não vai assinar decretos de
"garantia da lei e da ordem" (GLO) – e que não quer militares das
Forças Armadas nas favelas "brigando com bandido".
Lula deu a declaração durante café da manhã, no Palácio do
Planalto, com jornalistas que participam da cobertura diária da Presidência da
República.
Nesta semana, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro
(PL), esteve em Brasília para pedir apoio federal no combate às milícias e ao
crime organizado no estado. O governo já enviou a Força Nacional e, agora,
discute como enviar apoio logístico das Forças Armadas.
"Essa semana, tive reunião com os três comandantes das
Forças Armadas e com o ministro [da Defesa] José Múcio para discutir uma
participação deles no Rio de Janeiro. Eu não quero as Forças Armadas nas
favelas brigando com bandido. Não é esse o papel das Forças Armadas e, enquanto
eu for presidente, não tem GLO", declarou Lula.
"Eu fui eleito para governar esse país e vou governar
esse país. O que eu determinei é que a Aeronáutica pode reforçar o policiamento
nos aeroportos; a Marinha, nos portos brasileiros", prosseguiu.
O presidente foi questionado por jornalistas sobre os planos
do governo para normalizar as relações entre civis e militares, após o
crescimento da participação militar no governo durante a gestão Jair Bolsonaro.
Lula negou que pretenda "intervir" nas Forças para reduzir essa
tensão.
"Eu acho que a palavra intervenção não é a mais correta.
O que nós estamos fazendo é tentando mostrar para a sociedade brasileira que
militar não é melhor que civil, e civil não é melhor que militar. Que os dois
são brasileiros, estão subordinados a uma Constituição, cada instituição tem
sua função", disse.
"O que aconteceu recentemente com o 8 de janeiro foi um
desvio, pela existência de um governante que sabia fazia tudo, menos governar.
Que achava que poderia utilizar as instituições como instrumento dele para
fazer política. Que não tinha nada de republicano na cabeça dele", seguiu,
em referência a Bolsonaro.
Ajuda
federal não substituirá polícia
Ainda sobre o apoio federal no combate ao crime no Rio, Lula
afirmou que o papel das Forças Armadas e da Polícia Federal será de apoio
logístico, e não de atuação direta na repressão aos crimes.
Em transmissão em redes sociais, na terça (24), o presidente
já havia citado a possibilidade de enviar militares da Marinha e da Aeronáutica
para reforçar a fiscalização nos portos e aeroportos do estado,
respectivamente.
"Porque nos aeroportos, as drogas e as coisas que são
contrabandeadas são quilos. Nos navios, são toneladas, são contêineres",
disse Lula nesta sexta.
"Nós vamos ajudar. Nem a Polícia Federal tem que fazer
um papel que é da polícia do estado. A PF tem que ajudar investindo em
inteligência, detectando e prendendo as pessoas. Mas a gente não vai fazer
nenhuma intervenção como já foi feita pouco tempo atrás, em que se gastou uma
fortuna com o Exército no Rio de Janeiro e não resolveu nada."
"Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos
tiram férias. Quando termina a intervenção, eles voltam. Então, não queremos
isso", finalizou.
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