Número de acidentes com o aracnídeo tem crescido; no estado de SP foram registrados mais de 24 mil casos nos primeiros sete meses do ano
Os escorpiões preferem locais quentes e úmidos e necessitam
de quatro elementos para sobreviver em qualquer terreno: alimento, água, abrigo
e acesso. O lixo, por exemplo, atrai baratas, que servem de alimentação para os
aracnídeos. Para a moradia e acesso, eles procuram entulhos e se infiltram em
redes de esgoto, tubulações de água e de energia, que são ambientes mais
escuros e úmidos.
“É importante fazer o controle e ter os cuidados necessários porque nós
não conseguimos e nem podemos eliminar esses animais da natureza e dos meios
urbanos. Os escorpiões desempenham um papel importante no equilíbrio ecológico
como predadores de outros seres vivos e devem ser preservados, mas medidas
preventivas devem ser tomadas para evitar a proliferação no meio urbano e os
acidentes”, explica a bióloga e assistente técnica de pesquisa
científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan,
Denise Maria Candido.
Esses animais desempenham papel importante no equilíbrio
ecológico como predadores de outros seres vivos, devendo ser preservados na
natureza. Já nas áreas urbanas, medidas devem ser adotadas para que seja
evitada a sua proliferação, por meio de ações de controle, captura (busca
ativa) e manejo ambiental.
O Brasil abriga quatro espécies de escorpiões que são
consideradas de interesse médico e registram a maior quantidade de acidentes. O
escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), comum na região Norte e no
estado do Mato Grosso; o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que
também tem aparecido nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e
Tocantins; o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), frequente nas regiões do
Centro-Oeste, Sudeste e Sul; e o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), com ocorrência
em todas as regiões do país, mas ainda restrito em Tocantins.
O manejo do animal não é recomendado justamente por conta do
risco de acidentes. Por isso, ao encontrar um escorpião em casa, é preciso se
precaver antes de tomar qualquer atitude. Basicamente, é importante usar luvas
de vaqueta – material produzido a partir do couro de gado bovino – ou em raspa
de couro, botas ou sapatos fechados feitos de materiais mais resistentes, como
couro, e até mesmo perneiras, em caso de ambientes infestados. É importante
destacar que a luva de borracha e sapatos de pano são frágeis, e a picada
ultrapassa esses materiais.
“As pessoas nunca devem manusear os escorpiões. Caso seja necessário, o
bicho deve ser manuseado com um graveto longo ou pinça anatômica de 30
centímetros para empurrá-lo para dentro de um frasco. Em seguida, o escorpião
deve ser levado ao Centro de Controle de Zoonoses do município”, diz
Denise.
Como evitar
o aparecimento de escorpiões?
Para afastar escorpiões, é importante cuidar dos ambientes residenciais, seja casa ou apartamento, mantendo-os limpos e sem acúmulo de lixo, entulho, folhas secas e materiais de construção. Qualquer buraco no chão ou na parede pode ser um bom esconderijo, e até mesmo roupas sujas ou molhadas espalhadas pelo chão podem servir de abrigo para os aracnídeos.
Esses animais têm hábitos noturnos e dificilmente aparecem
durante o dia, o que torna mais difícil encontrá-los. “O escorpião é um bicho que não
ataca. Na verdade, ele se defende se uma pessoa colocar a mão ou pisar. O instinto dele é fugir em caso de
ameaça”, complementa Denise.
Confira
dicas para evitar o aparecimento de escorpiões:
·
Mantenha o lixo bem acondicionado para evitar a
proliferação de insetos, que servem de alimento para escorpiões
·
Deixe o quintal e o jardim limpos, sem acúmulo de
entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção
·
Evite que folhagens densas, como trepadeiras, arbustos
ou plantas ornamentais, encostem em paredes e muros
·
Vede bem as portas com soleiras ou saquinhos de areia
·
Use telas nas janelas
·
Mantenha os rodapés íntegros e pregados na parede
·
Vede todos os ralos com tapete de borracha ou use os
modelos de abre e fecha
·
Não deixe roupas sujas ou molhadas no chão
·
Ao colocar um sapato, chacoalhe antes para evitar
surpresas
·
Não deixe camas e móveis encostados na parede
·
Não deixe roupas de cama e mosquiteiros encostadas no
chão
·
Mantenha todos os buracos nas paredes, como espelhos
de tomadas, cabos e caixas de luz fechados
Galinhas
Existe um mito de que as galinhas são eficientes para
controlar a presença de escorpiões em zonas rurais e urbanas. É verdade que
essas aves gostam de comer escorpiões, mas de acordo com Denise, essa prática é
ineficiente. Vale lembrar também que é proibido criar aves na cidade sem
autorização das autoridades sanitárias competentes.
Um estudo realizado por alunos de doutorado da Escola de
Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) mostrou
que as galinhas são predadoras naturais dos escorpiões mesmo sofrendo com as
picadas. De acordo com a pesquisa, o veneno do aracnídeo não causa malefícios
nas aves a ponto de matá-las. Denise reforça, no entanto, que as galinhas não
devem ser usadas para o controle de escorpiões porque podem causar outros
problemas de saúde pública.
“As galinhas têm o hábito diurno e os escorpiões têm hábitos
noturnos. Por isso, os animais não se encontram e as aves não podem fazer esse
controle. Outra informação importante é que o acúmulo de fezes de galinha é um
reservatório do inseto flebotomíneo, que transmite a leishmaniose”, alerta a
bióloga.
Temporada
de escorpiões
Nos meses com temperaturas mais altas os escorpiões aparecem
com mais frequência, de setembro até fevereiro, nas regiões Sul, Sudeste e
Centro-Oeste. Os estados do Norte e Nordeste, que são predominantemente mais
quentes, costumam ter incidência do bicho durante o ano todo.
A rápida reprodução dos animais também é um ponto de atenção,
já que conseguem gerar entre 20 e 25 filhotes por gestação, que acontece até
duas vezes por ano em um período de quatro anos de vida, em média. As espécies
fêmeas de escorpião-amarelo e escorpião-amarelo-do-Nordeste têm reprodução por
partenogênese, ou seja, elas não precisam acasalar para dar cria.
Filhotes de
escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) no dorso da mãe
“Esses bichos levam de 10 a 12 meses para se tornar adultos,
e depois disso já podem ter filhotes. Isso facilita a proliferação de maneira
rápida. O escorpião-amarelo, especificamente, se adapta muito bem ao meio
urbano e ao ser humano, então esse aumento de acidentes está ligado também à
reprodução”, explica a bióloga.
O que fazer
em caso de picada
Os acidentes com escorpiões podem ser leves, moderados ou
graves. Nas pessoas, o veneno é capaz de afetar o sistema nervoso e causa muita
dor no local da picada, podendo se estender para o membro inteiro. As dores
acontecem imediatamente após o ataque. Nos casos moderados, os sintomas podem
evoluir para suor excessivo, vômito e taquicardia. Nos acidentes graves, além
da dor intensa, pode acontecer salivação, insuficiência cardíaca, edema
pulmonar e até mesmo a morte.
Denise explica que, após a picada, a primeira coisa a se
fazer é lavar o local com água e sabão e fazer uma compressa de água quente
para aliviar a dor. Logo depois, é importante buscar o apoio do atendimento
médico. A lista das unidades de saúde referência para acidentes com animais
peçonhentos pode ser conferida no site do Ministério da Saúde.
Os casos leves e moderados podem ser tratados com o uso de
infiltração de anestésico. Se for necessário, o médico pode utilizar o soro
antiaracnídico e antiescorpiônico, fabricados pelo Butantan. É importante
lembrar que o médico é a única pessoa capacitada para definir a gravidade do
acidente e a necessidade da utilização do soro. O Instituto, aliás, possui um
hospital especializado no atendimento a envenenamentos por animais peçonhentos,
o Hospital Vital Brazil, localizado dentro do Parque da Ciência, na cidade de
São Paulo.
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