O Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil público para investigar possíveis condutas ilícitas da rede social Kwai no Brasil. O objetivo do procedimento é apurar se a plataforma digital de origem chinesa tem promovido conteúdos e perfis falsos para impulsionar visualizações e o engajamento de seguidores.
Há indícios de que postagens na rede com informações
inverídicas e apelativas sejam produzidas não por usuários regulares do Kwai,
mas pela própria plataforma — diretamente ou por meio de empresas de
publicidade por ela contratadas, sem qualquer identificação de sua origem.
O inquérito foi instaurado a partir de uma denúncia anônima
que o MPF recebeu pelo canal institucional de atendimento aos cidadãos, o MPF
Serviços. As informações coincidem em grande parte com notícias veiculadas
recentemente na imprensa sobre a estratégia que o Kwai estaria adotando no
Brasil.
Os relatos apontam para práticas possivelmente abusivas da plataforma, com potencial de configurar violação dos direitos fundamentais à informação qualificada e à segurança nas relações de consumo, além de eventualmente abalar a confiança da sociedade no processo democrático.
A investigação do MPF abrangerá três eixos temáticos
principais. O primeiro refere-se à suposta criação de perfis falsos de órgãos e
autoridades públicas brasileiras no Kwai, como se fossem páginas oficiais. O
segundo está relacionado à possível produção e circulação de notícias falsas na
rede social, sobretudo durante a eleição de 2022, com a finalidade de aumentar
sua audiência e em contrariedade tanto com os termos de serviço da plataforma quanto
com os compromissos que ela afirma publicamente ter para contenção de
desinformação.
Por fim, o MPF analisará se o Kwai buscou elevar o
engajamento de usuários por meio da veiculação de vídeos contendo atos de
violência contra mulheres e exposição indevida de crianças e adolescentes.
Ao instaurar o inquérito, o MPF expediu ofícios cobrando
informações da Joyo Tecnologia Brasil Ltda — representante do Kwai no país — e
das empresas de publicidade que teriam produzido conteúdos desinformativos ou
apelativos a serviço da plataforma desde 2022.
O Ministério Público quer que a companhia e suas parceiras prestem esclarecimentos sobre os contratos firmados e mantenham — a salvo de manipulação — mensagens, gravações, documentos, vídeos postados e quaisquer outras evidências relacionadas às condutas que agora estão sob apuração.
O MPF também questionou a Joyo Brasil sobre os termos de uso
do Kwai. A empresa terá que indicar quais condutas na rede violam suas regras e
que medidas adota quando essas infrações são constatadas.
Além disso, o MPF busca saber se a plataforma disponibiliza
canais de denúncia a seus usuários. Em caso afirmativo, a Joyo deverá explicar
qual é o fluxo de tratamento das comunicações registradas, o tempo médio para
serem atendidas, quantos empregados no Brasil atuam para analisá-las e se
possíveis atos ilícitos identificados nas postagens são informados às
autoridades brasileiras.
Responsável pelo inquérito, a Procuradoria Regional dos
Direitos do Cidadão (órgão do MPF em São Paulo) já conduz uma apuração desde
2021 sobre a postura de outras sete plataformas digitais. O procedimento
investiga se YouTube, TikTok, Instagram, Facebook, X (antigo Twitter), Whatsapp
e Telegram têm incorrido em omissões no combate à desinformação e à violência digital.
Ao apurar essas redes e aplicativos, o MPF mira as ações que
as empresas adotam na moderação de postagens e mensagens de seus usuários. Já o
caso do Kwai terá uma abordagem inédita: o Ministério Público investigará uma
plataforma digital que estaria atuando não como intermediária, mas como autora
de conteúdos falsos e apelativos, contratando-os e disseminando-os para
expandir sua audiência e obter maiores lucros. Com informações da assessoria de
imprensa do MPF.
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