Ministro da CGU defende mudança em lei que permite sigilo de 100 anos para dados sensíveis Em audiência na Câmara, deputados questionaram sigilo imposto pelo governo Lula a 1.339 documentos
O ministro
da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, informou
que o órgão trabalha em uma proposta de mudança do prazo do sigilo de 100 anos
previsto na Lei de Acesso à Informação (LAI) para dados considerados
sensíveis.
Atualmente,
a lei estabelece que as informações pessoais, relativas à intimidade, à vida
privada, à honra e à imagem terão seu acesso restrito pelo prazo máximo de 100
anos a contar da data de produção. Uma eventual alteração na legislação terá de
ser analisada pelo Congresso Nacional.
A declaração
foi dada nesta quarta-feira (5) em audiência pública na Comissão de
Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
O deputado
Kim Kataguiri (União-SP), um dos que pediu o debate, questionou o ministro
sobre o sigilo de 100 anos imposto, durante o governo atual, em 1.339
documentos. Segundo o parlamentar, a prática ecoa atos do governo anterior
(Jair Bolsonaro) que Lula havia prometido combater durante a campanha
eleitoral.
“Foi decretado, no governo Lula, sob o ministério de vossa excelência, o sigilo de 100 anos em diversos documentos. E a justificativa que a CGU utiliza é que existem dados pessoais e esses dados não podem ser divulgados”, disse Kim. Na avaliação do deputado, é possível colocar uma tarja sobre esses dados sensíveis e, assim, permitir acesso a eles, mas, conforme o parlamentar, a CGU alega que seria um trabalho adicional colocar essa tarja.
Orientação
da CGU
Vinícius
Marques de Carvalho explicou que essa não é a orientação da CGU e disse que
pode ter ocorrido em algum caso específico. Ele afirmou que no governo anterior
havia imposição de sigilos ilegais, sem nenhuma justificativa plausível. De
acordo com o ministro, desses 1.339 casos, apenas cerca de 200 chegaram à CGU,
que é uma instância recursal para esses pedidos.
“A
orientação da CGU é, se um documento que é público merece ser tarjado naquilo
que se refere a dados pessoais sensíveis – não são todos os dados pessoais que
são sensíveis em relação à intimidade e à privacidade –, você tarja esses dados
e entrega o documento”, informou. “Nosso treinamento para os quase 3 mil
servidores públicos que atuam nessa área foi feito nessa direção”,
reiterou.
O ministro acrescentou que a CGU não tem poder hierárquico sobre servidores de outros ministérios que tenham postura diferente, mas, em todas as vezes que vai um recurso para a CGU, a atuação é nessa direção.
Ainda de
acordo com Carvalho, a CGU está trabalhando uma solução de inteligência
artificial para fazer o tarjamento de maneira automática. O software está sendo
testado dentro da controladoria e até julho deverá ser disponibilizado para
todos os ministérios.
Negativas à
LAI
Kim
Kataguiri apontou ainda que, em um ano de governo Lula, as negativas de acesso
à informação com base na LAI já superam os quatro anos do governo Bolsonaro.
Segundo o ministro da CGU, no ano passado, houve 130 mil solicitações de acesso a informações no governo federal, com 75% dos pedidos completamente atendidos, número que só foi maior em 2012.
Agenda dos
ministros
Também autor
do requerimento da audiência, o deputado Junio Amaral (PL-MG) indagou Carvalho
sobre o descumprimento, por parte de alguns ministros do governo atual, da
obrigação de inserir suas agendas e compromissos públicos na plataforma virtual
no Sistema Eletrônico de Agendas do Poder Executivo Federal (e-Agendas),
mantida pela CGU.
“Os agentes
públicos, em específico alguns ministros de Estado, não estão cumprindo a
determinação legal, incorrendo em flagrantes violações de inserirem suas
agendas e compromissos públicos no e-Agendas”, disse o parlamentar. "Como
exemplo, cito a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, que durante a
maior parte do ano de 2023 não inseriu suas agendas na plataforma”, continuou
Amaral.
Já o
ministro da CGU, Vinícius Marques de Carvalho, apontou uma evolução na
divulgação das agendas. “Em janeiro de 2023, quando assumimos, 60% das agendas
eram colocadas no sistema em prazo tempestivo, ou seja, antes de sete dias.
Agora, a gente está com 89%”, declarou. "A meta é chegar a 100%, e a CGU
promove muitos treinamentos na Esplanada dos Ministérios em relação ao
e-Agendas", disse.
Escritório
de advocacia
O ministro
da CGU também foi questionado por Kim Karaguiri sobre a renegociação dos
acordos de leniência da Novonor (antiga Odebrecht) que, conforme revelou a
imprensa, tem um contrato com o escritório de advocacia VCMA, do qual o
ministro era sócio patrimonial e a namorada dele continua sendo sócia.
O ministro
disse que se licenciou do escritório assim que assumiu o cargo, em janeiro de
2023, e que o escritório nunca advogou para nenhuma empresa na CGU e continua
proibido de atuar no órgão, por orientação da Comissão de Ética da Presidência
da República.
“O
escritório atua para empresas em outras áreas, nunca atuou na CGU. E, depois
que virei ministro, foi decidido que o escritório jamais atuaria na
controladoria”, afirmou.
“Para evitar
qualquer tipo de confusão, mal-entendido, resolvi sair do escritório
definitivamente há poucas semanas, embora todas as denúncias que foram feitas
tenham sido arquivadas nas respectivas instâncias: no Ministério Público
Federal, na Justiça Federal e na Comissão de Ética da Presidência”, acrescentou
Carvalho.
Apesar do aval da comissão de ética, Kim Kataguiri alegou que existe conflito de interesse no caso, e que, mesmo que a prática não tenha sido considerada ilegal, continua sendo imoral. Já o deputado Kiko Celeguim (PT-SP) considerou que as questões foram muito bem esclarecidas pelo ministro.
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