Ao discursar
na Cúpula do Mercosul, no Paraguai, nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva criticou o que chamou de “nacionalismo arcaico e
isolacionista”. “No mundo globalizado, não faz sentido recorrer ao nacionalismo
arcaico e isolacionista. Tampouco há justificativa para resgatar as
experiências ultraliberais que apenas agravaram as desigualdades em nossa
região”, disse.
Lula lembrou
que esta é a 19ª Cúpula do Mercosul de que participa como chefe de Estado. Para
ele, “nunca nos deparamos com tantos desafios, seja no âmbito regional, seja em
nível global”.
“Nos últimos
anos, permitimos que conflitos e disputas, muitas vezes alheios à região, se
sobreponham à nossa vocação de paz e cooperação. Voltamos a ser uma região
balcanizada e dividida, mais voltada para fora do que para si própria”,
afirmou.
“Num
contexto de acirramento da competição geoestratégica, a questão que se impõe é
se nossos países querem se integrar ao mundo unidos ou separados. Não vejo
contradição entre participar da economia global e cooperar entre vizinhos.
Minha aposta no Mercosul como plataforma de inserção internacional e de
desenvolvimento do Brasil permanece inabalável. Nosso bloco é um projeto
ambicioso e que gerou muitos frutos desde seu lançamento”, disse.
O presidente
Lula destacou que o comércio entre países da região multiplicou-se dez vezes ao
longo dos últimos anos e, atualmente, soma US$ 49 bilhões. “É preciso pensar
grande, como nossos antecessores ousaram fazer nesta capital há 33 anos. O
Mercosul será o que quisermos que seja. Não nos cabe apequena-lo com propostas
simplistas que o debilitam institucionalmente. Nossos esforços de atualização
devem apontar para outra direção”.
Democracia
Ao mencionar
a tentativa de golpe de Estado na Bolívia no mês passado e os atos extremistas
registrados no Brasil em janeiro de 2023, Lula avaliou que “não há atalhos à
democracia na região, mas é preciso permanecer vigilantes”. “Falsos democratas
tentam solapar as instituições e colocá-las a serviço de interesses
reacionários. Enquanto nossa região seguir entre as mais desiguais do mundo, a
estabilidade política permanecerá ameaçada”, afirmou.
“Democracia
e desenvolvimento andam lado a lado. Os bons economistas sabem que o livre
mercado não é uma panaceia para a humanidade. Quem conhece a história da
América Latina reconhece o valor do Estado como planejador e indutor do
desenvolvimento”, completou.
Lula
comentou também sobre a incorporação da Bolívia como sexto membro do Mercosul.
“A adesão plena da Bolívia tem enorme valor estratégico e faz do nosso bloco
ator incontornável no contexto da transição energética. Somos ricos em recursos
minerais e possuímos abundantes fontes de energia limpa e barata. Temos tudo
para nos tornar um elo importante na cadeia de semicondutores, baterias e
painéis solares”.
“Podemos
formar uma aliança de produtores de minerais críticos para que os benefícios do
processamento desses recursos fiquem em nossos países”, defendeu.
Crise
climática
Ainda
durante seu discurso na Cúpula do Mercosul, Lula avaliou que países da América
Latina devem liderar a discussão sobre combate às mudanças climáticas, citando
as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul há cerca de dois meses. “A
crise climática nos aproxima muito rapidamente de um cenário catastrófico”,
disse.
“No último
um ano e meio, vivemos secas históricas na Amazônia, nos Pampas e no Pantanal
brasileiro e boliviano, que também padeceram com incêndios nos últimos dias. Há
poucas semanas, o Rio Grande do Sul sofreu enormes perdas humanas e materiais
com inundações sem precedentes, que também impactaram o Uruguai”.
“Além de agradecer a solidariedade de todos os sócios do Mercosul que ofereceram prontamente os mais diversos tipos de ajuda humanitária, quero fazer um chamado por maior engajamento e ambição climática. É muito oportuna a adesão do Mercosul, nesta cúpula, ao Memorando de Entendimento sobre cooperação em gestão integral de risco de desastres. Somos o continente com a maior floresta tropical e as maiores reservas de água doce do mundo”, disse o presidente.
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