USP: sintomas de abstinência alcoólica podem aparecer mesmo sem interrupção de consumo - O psiquiatra explica que a abstinência pode se manifestar mesmo que o usuário não interrompa totalmente o consumo
Segundo
dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças
Crônicas por Inquérito Telefônico, em 2021 cerca de 18% da população brasileira
fez uso abusivo do álcool, bebendo mais de cinco doses em uma única ocasião do
mês. Caso o uso abusivo se torne frequente, o quadro pode evoluir para
dependência de álcool, caracterizada pelo uso descontrolado, constante em
quantidades progressivamente maiores da substância. João Castaldelli-Maia,
psiquiatra e professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, conta
mais sobre os sintomas da abstinência: “O paciente começa a tremer, fica muito
ansioso, com elevação da pressão arterial, e pode inclusive convulsionar, o que
pode levar à morte”.
O psiquiatra
explica que a abstinência pode se manifestar mesmo que o usuário não interrompa
totalmente o consumo. Basta reduzir a dose, ou beber bebidas fermentadas mais
suaves no lugar de destilados, que o alcoólico começa a manifestar sintomas,
que podem durar até 15 dias. “A abstinência dura até 15 dias nos relatos, mas
os piores momentos acontecem em torno do segundo dia até o sétimo dia. A
confusão mental pode se manifestar durante a abstinência, que a gente dá o nome
de delirium tremens, a pessoa fica delirante tremendo, e isso é um marcador de
gravidade muito grande, que já necessita um suporte intensivo”, expõe
Castaldelli-Maia
Diferenças
de gênero
Joana
Rodrigues Marczyk, psiquiatra do Programa da Mulher Dependente Química do
Hospital das Clínicas, explica que os sintomas de dependência e abstinência se
manifestam de maneiras diferentes entre homens e mulheres: “As mulheres têm uma
chance maior de evoluir mais rápido para um transtorno pelo uso de álcool,
porque o organismo da mulher reage de uma forma um pouco mais sensível.
Mulheres desenvolvem dependência pelo uso de álcool num tempo mais curto e
fazem quadros com mais consequências físicas, como lesão hepática, por
exemplo”, conta a psiquiatra.
E as
diferenças são também sociais. Enquanto homens dependentes costumam começar a
beber em eventos sociais, bares com os amigos, as mulheres possuem uma
tendência maior a enxergar, no consumo de álcool, uma forma de automedicação:
“Nas mulheres, o álcool entra como uma automedicação, normalmente para aliviar
algum tipo de sintoma de alguma outra comorbidade psiquiátrica, um episódio
depressivo ou um transtorno ansioso que não está tratado. Ela começa a fazer o
uso do álcool numa tentativa de se tratar daquilo que está sentindo”, argumenta
Joana.
Acompanhamento
especializado
Justamente
pela gravidade dos sintomas, não é recomendado que uma pessoa dependente de
álcool interrompa o uso sem acompanhamento profissional. Joana Marczyk explica
que remédios ministrados em ambulatório podem ajudar no processo. “As drogas
que a gente costuma usar no tratamento de abstinência são os benzodiazepínicos,
especificamente o Diazepam. A medicação entra justamente para evitar aqueles
sintomas físicos, tremores, sudorese, taquicardia, aumento de pressão, porque
são esses sintomas físicos que muitas vezes fazem o paciente voltar a beber.”
A psiquiatra
conta também que, em casos mais graves, a internação se faz necessária: “Se for
um caso muito grave, o paciente vai ter que estar num ambiente de internação
durante a retirada mesmo. Então, essa é a primeira coisa que a rede de apoio,
família ou amigos, pode fazer para proteger essa pessoa que faz uso constante
de álcool”.
Se alguém
próximo de você está passando por um processo de retirada de álcool, não
estigmatize a internação! É um processo doloroso, mas pode ser necessário para
interromper a dependência.
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