'Dinheiro esquecido': Congresso autoriza governo a recolher até R$ 8,5 bi do povo brasileiro - Oposicionistas avaliam que as medidas configuram "confisco" e "expropriação
A Câmara concluiu nesta quinta-feira (12) a aprovação do projeto que prevê a reoneração gradual da folha de pagamentos de 17 setores da economia. Entre outros pontos, a proposta também autoriza o governo a recolher recursos esquecidos em contas bancárias que não foram reclamados pelos titulares.
Já aprovado
pelo Senado, o texto vai à sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT),
que poderá vetar trechos ou a íntegra do projeto. Em caso de vetos, a palavra
final caberá ao Congresso.
Se a
proposta virar lei, titulares de "dinheiro esquecido" poderão, em até
30 dias após a publicação da norma, resgatar os valores. Depois desse prazo, os
recursos serão direcionados ao Tesouro Nacional.
Uma vez que
os saldos forem apropriados pelo Tesouro, o Ministério da Fazenda publicará no
"Diário Oficial da União" um edital com a relação de valores
recolhidos, indicando: a instituição depositária, a agência, a natureza e o
número da conta do depósito.
O edital
também estipulará prazo de 30 dias, a partir da data da sua publicação, para
que os detentores dos recursos contestem esse direcionamento.
Esgotado
esse prazo de 30 dias, os valores recolhidos não contestados ficarão
incorporados de forma definitiva ao Tesouro Nacional.
Ou seja, os
saldos passarão para o Tesouro Nacional, como receita primária. Serão válidos,
portanto, para os cálculos de cumprimento da meta de resultado primário –
diferença entre o que o governo federal arrecada e o que gasta – prevista na
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
No entanto,
o titular dos recursos incorporados ao Tesouro Nacional ainda terão seis meses
para requerer judicialmente o reconhecimento de direito aos depósitos. Os seis
meses serão contados a partir da publicação do edital do Ministério da Fazenda.
Sem dar
detalhes, a proposta também diz que os recursos repassados à União poderão ser
reclamados junto aos bancos até 31 de dezembro de 2027.
Na semana
passada, o Banco Central divulgou que há R$ 8,56 bilhões esquecidos e
disponíveis para resgate pelo Sistema de Valores a Receber (SVR).
Governistas
e a equipe econômica afirmam que esses recursos poderão ser utilizados para
compensar parcialmente perdas arrecadatórias com a desoneração de setores e de
prefeituras.
Oposição
fala em 'confisco'
Parlamentares
de oposição ao governo Lula criticam a medida incluída no projeto da
desoneração da folha de pagamentos.
Eles também
se posicionaram contra a possibilidade, prevista na proposta, de utilização de
valores de processos judiciais encerrados.
O projeto
reduz para dois anos o prazo para que pessoas resgatem depósitos em processos
judiciais já encerrados no âmbito federal. Atualmente, o período é de 25 anos.
Se não houver o resgate nesse prazo, a União poderá recolher o valor e
transferir para o caixa do Tesouro.
Para
deputados contrários ao governo, as medidas são inconstitucionais e serão alvo
de questionamentos que a oposição diz que apresentará ao Supremo Tribunal
Federal (STF).
Oposicionistas
avaliam que as medidas configuram "confisco" e
"expropriação".
Consulta
e saque dos valores
Para saber
se têm algum "dinheiro esquecido" nos bancos, os correntistas podem
consultar o site oficial estabelecido pelo Banco Central para isso.
O sistema é
um serviço do BC no qual é possível consultar se pessoas físicas, inclusive
falecidas, e empresas têm algum "dinheiro esquecido" e, portanto,
parado em banco, consórcio ou outra instituição.
É importante
ressaltar que, via sistema do Banco Central, os valores só serão liberados para
aqueles que fornecerem uma chave PIX para a devolução.
Caso não
tenha uma chave cadastrada, é preciso entrar em contato com a instituição para
combinar a forma de recebimento. Outra opção é criar uma chave e retornar ao
sistema para fazer a solicitação.
No caso de
valores a receber de pessoas falecidas, é preciso ser herdeiro, testamentário,
inventariante ou representante legal para consultá-los. Também é necessário
preencher um termo de responsabilidade.
Após a
consulta, é preciso entrar em contato com as instituições nas quais há valores
a receber e verificar os procedimentos.
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