São Paulo é a cidade com a pior qualidade do ar do mundo - A poluição é resultado da atividade industrial, queimadas e intensa circulação de veículos
São Paulo, a maior metrópole do Brasil e da América Latina,
está no centro de uma crise ambiental. A cidade acaba de ser classificada como
a de pior qualidade do ar do mundo, ultrapassando cidades historicamente
poluídas como Nova Délhi e Pequim. Mas como chegamos a esse ponto? O colapso da
qualidade do ar em São Paulo tem múltiplas causas, todas interligadas em uma
teia de problemas ambientais, sociais e políticos. O mais visível, e talvez o
mais discutido, são as queimadas. A Amazônia e o Pantanal estão em chamas. De
acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 2024 já
ultrapassou 150 mil focos de incêndios florestais no Brasil. Essas queimadas,
além de destruir ecossistemas únicos e liberar toneladas de carbono na
atmosfera, são responsáveis por uma gigantesca nuvem de fumaça que viaja
centenas de quilômetros e chega à capital paulista.
A capital paulista, com seus mais de 12 milhões de
habitantes, já enfrentava há anos uma crescente crise de poluição atmosférica.
A frota de veículos movidos a combustíveis fósseis cresce sem controle e as
políticas de transporte público e mobilidade urbana ainda são insuficiente.
Isso sem mencionar a concentração de indústrias ao redor da metrópole, que
continuam a emitir gases nocivos com uma fiscalização ambiental cada vez mais
fragilizada. O primeiro impacto sentido é na saúde. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) recomenda que a concentração de partículas finas no ar (PM2.5) não
ultrapasse 10 µg/m³ como média anual. Em São Paulo, esse número tem sido mais
que o triplo em muitos dias, chegando a níveis que colocam a população inteira
em risco. Essas partículas microscópicas penetram profundamente nos pulmões,
podendo causar desde irritações respiratórias até doenças crônicas como
bronquite, asma, e câncer de pulmão. Segundo o Ministério da Saúde, a poluição
do ar é responsável por mais de 20 mil internações hospitalares somente em
2023. Além disso, estima-se que a exposição prolongada a altos níveis de
poluentes possa reduzir a expectativa de vida em até 1,5 ano, especialmente em
áreas urbanas mais povoadas como São Paulo.
A degradação da qualidade do ar em São Paulo vai além dos
impactos na saúde. Ela tem efeitos profundos na economia. Estudos da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que as perdas econômicas causadas pela
poluição do ar podem chegar a 1% do PIB mundial. No Brasil, esse número pode ser
ainda maior, considerando as crises de queima de biomassa que elevam os índices
de poluição nas cidades. Além disso, com o aumento dos gastos públicos em saúde
para tratar doenças relacionadas à poluição, o orçamento de estados e
municípios acaba sendo pressionado. Esse é um ciclo vicioso em que a falta de
investimentos em prevenção ambiental acaba por gerar maiores custos no futuro.
É evidente que há uma necessidade urgente de políticas
públicas mais efetivas para combater essa crise. Investir em tecnologias de
monitoramento e controle da poluição, como o uso de satélites para identificar
queimadas e detectar fontes de emissões, é uma solução viável e urgente. Mas
essa é apenas uma parte do problema. A solução de longo prazo exige uma
reestruturação completa do modo como consumimos energia e como tratamos o meio
ambiente. O incentivo a veículos elétricos, a adoção de energias renováveis e a
criação de um plano de mobilidade urbana sustentável são passos necessários.
Mas isso precisa vir acompanhado de uma fiscalização rigorosa contra o desmatamento
ilegal e um compromisso real com o cumprimento das metas climáticas. Sem uma
abordagem multilateral, tanto em termos de políticas ambientais como de
conscientização da população, quem mora
em São Paulo continuará a viver sufocado pela
poluição.
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