Conteúdo: O Globo
Na primeira reunião após a derrota eleitoral para Jair
Bolsonaro (PSL), o comando do PT discutiu a necessidade de mobilizar uma
campanha internacional pela liberdade do ex-presidente Luiz Lula Inácio da
Silva. O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas,
defendeu que Fernando Haddad, candidato derrotado, assuma a linha de frente
dessa mobilização, com viagens ao exterior.
O partido, porém, prefere reservar para Haddad o papel de
articulador de uma frente de resistência ao governo de Bolsonaro. Ontem,
durante a reunião, Haddad chorou enquanto lembrava dos ataques que ele e sua
família sofreram com fake news.
" Queremos fazer a construção de uma forte
solidariedade internacional da causa democrática passando principalmente pela
liberdade de Lula, com quem nós nos preocupamos muito nesse contexto" —
afirmou a presidente da legenda, Glesi Hoffmann, após reunião da executiva do
partido para discutir os rumos da legenda após a eleição.
A dirigente citou o discurso feito por Bolsonaro no dia
21 transmitido para seus apoiadores que se reuniam na Avenida Paulista em que o
então candidato do PSL falava que Lula iria "apodrecer na cadeia".
"Tememos, inclusive, pela vida do presidente.
Precisamos deixar um alerta à sociedade: Lula tem direto a um julgamento justo."
Ex-chefe de gabinete de Lula na presidência, Gilberto
Carvalho também entende que o ex-presidente corre risco: — Temos que tirar o
Lula de lá. Os riscos das condições carcerárias dele piorarem, com base nas
falas do Bolsonaro, são reais.
Lula, segundo dirigentes do aprtido, também reforçou a
importância que a Haddad deve ter a partir de agora na legenda.
"O Haddad tem um papel muito importante e relevante
nesse processo, que é um papel maior que o PT, porque ele sai depositário da
esperança e da luta do povo pela democracia" — afirmou Gleisi.
Para Vagner Freitas, Haddad deveria usar a força que
adquiriu nas urnas no movimento em favor de Lula.
"Ele sai com a maior liderança da esquerda
brasileira e habilitado para conduzir o PT, ser a grande liderança do partido
nos próximos anos, com 47 milhões de votos.
Nossa proposta é utilizar essa enorme autoridade política que ele tem
para ser o grande condutor dessa campanha Lula livre".
Mas Gleisi entende que a atuação de Haddad teria mais
força no âmbito nacional.
"Mas subsidiariamente ele pode ter uma ou outra
viagem (para defender a libertação de Lula)" - ressalvou.
Na reunião, foi feito um relato da avaliação que Lula fez
sobre a disputa eleitoral em conversa, na segunda-feira, em sua cela na
Superintendência Federal do
Paraná com o tesoureiro do PT, Emidio de Souza, e com o
advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. O ex-presidente mostrou preocupação com a
queda da votação do partido no Rio e em Minas, além da manutenção mau
desempenho em São Paulo. Também disse que a direção do PT precisa ler o
resultado da eleição e descobrir formas de retomar o diálogo com a base. Por
outro lado, celebrou o desempenho no Nordeste. Lula também reforçou a
importância que a Haddad deve ter a partir de agora na legenda.
"O Fernando Haddad, no nosso entender, tem um papel
muito importante e relevante nesse processo, que é um papel maior que o PT,
porque ele sai depositário da esperança e da luta do povo pela democracia"
- afirmou Gleisi.
Adversária interna do candidato, a presidente do PT
garantiu que ele terá espaço para atuar e trabalhar na construção de uma
aliança com outras legendas e grupos da sociedade. Destacou, porém, que Haddad
é um grande liderança, "depois de Lula".
"O PT vai dar todas as condições para o Fernando
Haddad exerça esse papel de articulador junto com outras lideranças sociais e
lideranças de partidos políticos para consolidar essa frente de resistência."
Gleisi ainda atrelou a vitória de Bolsonaro ao processo
de impeachment sofrido pela presidente Dilma Rousseff em 2016, retomando o
discurso do golpe.
"A vitória de Jair Bolsonaro consolida o golpe que
foi inciado com o impeachment da Dilma."
Para a presidente do PT, a vitória do presidente eleito
foi obtida por meio de "fraude no processo eleitoral", com o uso de
fake news e disparo de mensagens de Whatsapp bancado por empresários. Gleisi,
porém, foi cautelosa ao ser indagada se a chapa deveria ser cassada:
"Isso é a Justiça que vai definir avaliando o
processo."
Apesar de Lula ter afirmado aos petistas,na
segunda-feira, que uma avaliação mais correta dos rumos do governo Bolsonaro só
poderá ser feita ao final do primeiro semestre do próximo ano, o partido
decidiu que já deve começar uma ofensiva de oposição. No momento, a prioridade
será barrar a votação do projeto de reforma da Previdência do governo Michel
Temer.
" Tem uma pauta a ser enfrentada já no Congresso. Há
um grande acordo entre Bolsonaro e Temer acontecendo" - afirmou Alexandre
Padilha, vice-presidente do PT e deputado eleito.
O partido também pretende montar uma rede para colher
relatos de atos de violências por intolerância política ou desrespeito aos
direitos humanos pelo país.
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