Foto: David Guzmán/EFE
Voluntários e ativistas
passaram a relatar prisões e condenações nos últimos dois anos por ajudar
imigrantes que atravessaram o deserto do Arizona e do Texas para tentar viver
nos Estados Unidos.
Os “bons samaritanos”, como
são chamados pelos imigrantes aqueles que prestam esse serviço humanitário,
dizem estar sendo criminalizados pelo governo de Donald Trump. Agentes do
governo dizem estar simplesmente cumprindo a lei.
Segundo reportagem da NPR,
rádio pública americana, as prisões de pessoas que fornecem comida ou protegem
imigrantes crescem desde 2017, quando o então secretário de Justiça, Jeff
Sessions, ordenou a procuradores federais priorizar casos de acobertamento para
punir as chamadas “cidades santuários”, que ajudam imigrantes ilegais.
Dados citados pela NPR,
confirmados pela Syracuse University, mostram que, no ano fiscal de 2018, houve
mais de 4,5 mil pessoas indiciadas por “trazer e abrigar imigrantes”. Trata-se
de um aumento de mais de 30% desde 2015. “Com esses processos, o governo está
dizendo que sua política de tolerância zero vale também para os ‘bons
samaritanos'”, disse Ranjana Natarajan, diretor da Clínica de Direitos Civis da
Escola de Direito da Universidade do Texas.
O geógrafo Scott Warren deve
ser julgado esta semana e, se condenado, pode pegar até 20 anos de cadeia por
“tráfico humano”. Nesta terça-feira (28), em relato na primeira pessoa ao
jornal Washington Post, ele contou que ajudou dois imigrantes fornecendo comida
e atendimento médico em um local chamado Barn, no Arizona, após a travessia no
México. Quando os dois se preparavam para seguir viagem, patrulheiros da
fronteira chegaram, algemaram os três e os levaram presos. Os agentes disseram
que o estavam prendendo por fornecer “comida, água, roupas limpas e cama” para
os imigrantes.
Ele explicou que políticas
de fronteira mais rigorosas estão levando os imigrantes a seguir por
territórios cada vez mais hostis e remotos – e muitos não sobrevivem. Na cidade
de Ajo, no Arizona, dezenas de corpos são encontrados todos os anos e muitos
outros continuarão lá sem serem descobertos. Ajudar esses imigrantes é uma
prática dos moradores de Ajo, segundo Warren.
O bom relacionamento que
existia entre os voluntários e os agentes de fronteira mudou, segundo ele, e o
governo passou a fechar o cerco, negando permissões para entrar em reservas
naturais, por onde geralmente passam os imigrantes, e destruindo os galões de
água que são deixados pelos voluntários no deserto.
Além disso, muitos
voluntários têm sido presos e multados em US$ 10 mil por entrar em reservas e
“abandonar propriedade” – quando são deixados galões de água e comida enlatada
para os imigrantes
Foi o que aconteceu com
quatro voluntárias da ONG No More Deaths. Em um julgamento de três dias em um
tribunal federal de Tucson, no Texas, elas foram consideradas culpadas e podem
ser condenadas a 6 meses de prisão.
A americana Teresa Todd,
advogada do governo que vive na região desértica do Parque Nacional de Big
Bend, disse que seu lado mãe falou mais alto quando três jovens salvadorenhos
acenaram para ela tarde da noite pedindo socorro numa rodovia do Texas.
Um deles, segundo ela,
parecia estar ferido. Teresa conta que, enquanto buscava uma orientação legal
com um amigo sobre o que fazer, com os três dentro de seu carro, um xerife patrulheiro
a abordou, começou a ler seus direitos e acusá-la de transportar imigrantes
ilegais.
Ela não foi indiciada, mas
seu caso continua em aberto. “Há algo maior em jogo aqui. Esta política de
tolerância zero envia uma mensagem que tenta impedir as pessoas de ajudarem as
outras.”
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