Luísa de Souza Rocha tem 25
anos e se formou em agosto em faculdade de BH. Além de RP, ela encabeça o
projeto Bagaceira, em que estimula outros jovens com síndrome de Down a terem
mais autonomia.
Por Patrícia Fiúza, G1 Minas
— Belo Horizonte
Conseguir um diploma é o
sonho de quem encara anos de estudo numa universidade. No caso da Luisa de
Souza Rocha, além de muito esperado, o certificado se tornou símbolo de um
feito inédito: segundo o Conselho Regional de Profissionais de Relações
Públicas de Minas, ela é a primeira mulher com síndrome de Down a se formar no
Brasil.
Aos 25 anos, Luísa colou
grau no mês de agosto, sob aplausos dos colegas e familiares, além da corujice
da mãe, Marisa de Souza Rocha Camargos. “Foi bom demais. Eu falo que a Alice
[filha mais velha] foi maravilhoso ver se formando. Mas a Luisa, quando se formou,
para mim, é como se tivesse feito mestrado, doutorado”, disse. “Calma, mãe, que
eu vou fazer ainda”, brincou Luisa.
Engana-se quem acha que só
pelo fato de ter a síndrome de Down, Luísa ficou para trás em relação aos
colegas de faculdade. “Já fui destaque acadêmico”, contou. A aluna aplicada
garante que ainda estuda muito e, para o futuro, pretende se qualificar ainda
mais. “Quero também dar aulas. Meu professor falava que eu tenho que ensinar
também”, disse.
Antes de escolher o curso de
Relações Públicas, Luisa passou por vários testes vocacionais na escola. “Deu
humanas. Sou muito comunicativa. Fiquei pesquisando e me apaixonei pela
profissão. Até hoje pesquiso muito.”
Durante o curso, Luísa, que
trabalhava numa rede de supermercados desde 2015, deixou o emprego para fazer
estágio na área de atuação, dentro da própria faculdade. Descobriu a área em
que gostaria de atuar. “Gosto da parte de eventos e de jornalismo”, contou.
Os anos na universidade
foram acompanhados bem de perto pela mãe e pela irmã, cinco anos mais velha.
“Alice é uma irmã que ‘empurra’ a Luísa. É engenheira mecânica, mas acompanha a
mais nova em tudo. É ela quem tem a agenda toda da caçula”, disse Marisa. “Ela
é metade minha irmã, metade mãe. É a minha ‘irmãe’”, brincou a jovem RP, que
também contou com apoio de psicopedagoga durante toda a vida escolar.
Desafios
Marisa descobriu que a filha
tinha síndrome de Down duas horas após o seu nascimento. Até hoje, a mãe nunca
mediu esforços para que Luisa tivesse a vida com mais autonomia.
A rotina da família era
pesada. A menina tinha atendimentos de terapia ocupacional, psicólogos e
fonoaudiólogo pela manhã, escola à tarde e atividades esportivas à noite.
“Nunca me senti cansada. Nunca quis parar”, disse a jovem.
Para a mãe, esta foi uma
forma de estimular o desenvolvimento da filha. “Sou uma mãe que via a questão
da síndrome de Down de outro lado. Acho que tem é que ‘empurrar’ mesmo. Sempre
tive muita esperança de que minha filha seria assim”, contou Marisa.
Baladas e Bagaceira
Luísa adora falar sobre sua
independência: sai sozinha com os amigos, “curte uma balada” e toma “cervejinha
de vez em quando”, mas ainda “não namora”.
O apoio que recebeu da
família virou estímulo para que a jovem criasse o Projeto Bagaceira. Uma vez
por mês, ela leva outros jovens com síndrome de down para bares e “noitadas”. O
objetivo é que os amigos também desenvolvam maior autonomia nas atividades do
dia-a-dia.
“Eu saio muito. Levo meus
amigos junto”, contou Luísa, que ainda disse ser blogueira e ter mais de três
mil seguidores nas redes sociais.
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