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Duas pesquisas apontam mancha em imagem de satélite; Marinha e Ibama negam relação com óleo do Nordeste

A mancha tem 200 km² de área e foi vista por pesquisadores da UFAL e da UFRJ a 50 km do litoral da Bahia.


Imagem do satélite Sentinel mostra mancha com características de óleo a 50 km da costa da Bahia. Área mais escura à direita da mancha mostra quebra de profundidade na plataforma continental — Foto: Arquivo pessoal/José Carlos Seoane


Matéria: 'G1'

Dois pesquisadores de grupos diferentes ligados a universidades federais brasileiras – a de Alagoas (Ufal) e a do Rio de Janeiro (UFRJ) – divulgaram nesta quarta-feira (30) imagens de uma mancha, de 200 km², que têm características parecidas com as do óleo que tem surgido nas praias do Nordeste.

A mancha foi vista a 50 km do litoral da Bahia. Ela possui superfície lisa, compatível com o efeito que o óleo causa ao quebrar a tensão superficial da água. As bordas são bem definidas e não tem redemoinhos, o que descartaria possíveis relações com materiais vindos da decomposição de corais, por exemplo, segundo um dos especialistas ouvidos pelo G1.

A Marinha informou, em nota, que fez análises e descartou a relação com as manchas de óleo que poluem as praias do Nordeste (leia a íntegra abaixo). O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse na manhã desta quarta em Belém (PA) que acha "difícil" que a mancha identificada tenha relação com os casos do Nordeste devido às características do óleo encontrado nas praias, que é mais pesado e não flutua na superfície.

"É muito difícil, porque é um óleo grosso, que se desloca por meio das correntes marítimas, mas que fica a 'meia água'. Por conta disso, os radares e satélites não identificam as manchas. Mesmo visualmente, as nossas aeronaves têm dificuldade de identificar", afirmou Silva.

Uma nota técnica do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) afirma que a análise da imagem descarta relação com as manchas de óleo. "(...) Não foi considerada uma feição suspeita de poluição por óleo pelos Analistas Ambientais, sendo apenas mais uma feição de falso-positivo, por não apresentar padrões texturais e técnicos apropriados", diz um trecho da nota técnica.

As análises das imagens feitas pelos pesquisadores ainda não permitem aprofundar as investigações sobre as características desta mancha captada pelo satélite.

Desde o dia 30 de agosto, mais de 250 locais já foram atingidos pelas manchas de óleo. Análises apontam que se trata de petróleo cru, com “DNA” da Venezuela. Nesta quarta completam-se 2 meses do surgimento das manchas, sem que o governo saiba qual a origem da poluição.

Confira abaixo o que dizem os pesquisadores:

A hipótese da UFRJ

O pesquisador do Instituto de Geociências da UFRJ José Carlos Seoane afirmou, em entrevista ao G1, que a mancha despertou a atenção tanto pelo tamanho quanto pelas características. A imagem foi identificada às 11h do dia 28 de outubro pelo Satélite Sentinel enquanto Seoane fazia o monitoramento das áreas de corais, foco de suas pesquisas desde 2005.
 
Caso se confirme, a aproximação da mancha às áreas de coral poderia prejudicar o ecossistema. "Todas as hipóteses de investigação são válidas", afirma. "O que precisamos fazer é chegar com a embarcação lá e confirmar de verdade [do que se trata]", defende Seoane, da UFRJ.

Segundo o pesquisador, o satélite Sentinel passa a cada seis dias sobre uma mesma área e capta as imagens por radar, usando um espectro eletromagnético entre o infravermelho e as ondas de rádio.

"O óleo quebra a tensão superficial da água e deixa ela lisa. Onde não tem óleo ficam umas ‘ruguinhas’ na imagem, provocadas pelo vento, por exemplo, sobre a superfície da água”, afirma.

Uma possível explicação para a mancha é se tratar de material produzido por corais, chamado de biofilme. “Pode até ser, mas eu nunca vi um de 200 km². Não quer dizer que não exista, mas precisa ir lá e verificar” – José Carlos Seoane, da UFRJ.
A hipótese de Seoane levanta a dúvida sobre o que é o material encontrado no mar, mas o pesquisador afirma que não pode assegurar se tem relação com as manchas que estão surgindo no Nordeste.

A hipótese da UFAL

O pesquisador Humberto Barbosa, do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Ufal, também encontrou a mesma imagem analisando os dados do satélite Sentinel.

Entretanto, diferentemente da análise da UFRJ, Barbosa vai além e levanta a hipótese de que a mancha de óleo tenha vindo de um 'grande vazamento em minas de petróleo'.

A região analisada pelo pesquisador está perto de áreas de exploração de petróleo, conforme mapeamento da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

"Ontem tivemos um grande impacto, pois pela primeira vez, encontramos uma assinatura espacial diferenciada. Ela mostra que a origem do vazamento pode estar ocorrendo abaixo da superfície do mar. Com isso, levantamos a hipótese de que a poluição pode ter sido causada por um grande vazamento em minas de petróleo ou, pela sua localização, pode ter ocorrido até mesmo na região do pré-sal", diz Barbosa.

Íntegra da nota da Marinha
“Em relação à possível mancha que estaria avançando pelo mar da Bahia, informamos que não se trata de óleo. Foram feitas quatro avaliações para confirmar: consulta aos especialistas da ITOF [Federação Internacional de Poluição por Petroleiros], monitoramento aéreo e por navios na região e por meio de satélite.

É importante frisar que a gravidade, a extensão e o ineditismo desse crime ambiental exigem constante avaliação da estrutura e dos recursos materiais e humanos empregados, no tempo e quantitativo que for necessário.

Segundo especialistas do ITOF, ela possui diversas características, podendo ser nuvem, fenômeno da ressurgência no mar etc.”

Por telefone, um porta-voz do Grupo de Avaliação e Acompanhamento esclareceu mais alguns pontos:

“Não sendo óleo, podem ser diversos tipos de mancha. Podem ser nuvens, ressurgências dentro da água, algas, essas coisas têm diversas outras características. De imediato, para a urgência do caso, chegamos à conclusão que não é óleo. Foram feitas inspeções no local por meio de navios, monitoramento aéreo na região, no local, e além disso consultamos especialistas da ITOF, uma organização internacional. É como se você verificasse se um tumor é benigno ou maligno. Tem características definidas. Por isso podemos afirmar que não é óleo.”







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