Ministro do Meio Ambiente do
Brasil havia dito que material 'muito provavelmente' é venezuelano. Petroleira
do país vizinho afirma não ter registro de vazamentos em seus campos nem relatos
de clientes sobre problemas perto da costa do Brasil.
O governo de Nicolás Maduro
afirmou, nesta quinta-feira (10), que o ministro do Meio Ambiente do Brasil,
Ricardo Salles, foi "tendencioso" ao dizer que a Venezuela é
responsável pelo petróleo que atingiu praias do Nordeste brasileiro;
Salles declarou, na quarta
(9), que as manchas de óleo "muito provavelmente" estão relacionadas
a produto do país vizinho, que pode ter sido transportado perto da costa
brasileira (veja mais abaixo).
Em comunicado divulgado em
seu site, a estatal venezuelana de petróleo, PDVSA, afirmou ainda
"rechaçar categoricamente" as declarações de Salles. O texto também
foi publicado no site do Ministério do Petróleo da Venezuela (veja íntegra ao
final da reportagem).
"Petróleos da
Venezuela, S.A. (PDVSA) rechaça categoricamente as declarações do Ministro do
Meio Ambiente da República Federativa do Brasil, Ricardo Salles, que acusa a
República Bolivariana da Venezuela de ser responsável pelo petróleo bruto que
polui as praias do Nordeste do Brasil desde o início de setembro, considerando
essas alegações infundadas, uma vez que não há evidência de derramamentos de
óleo nos campos de petróleo da Venezuela que poderiam ter causado danos ao
ecossistema marinho do país vizinho."
"Condenamos essas
afirmações tendenciosas", diz o texto, observando que as manchas estavam
localizadas a cerca de 6.650 km de sua infraestrutura de petróleo.
Em nota, o Ministério do
Meio Ambiente respondeu que "a indicação de origem venezuelana do óleo se
baseia em análise técnica laboratorial da Petrobras. A hipótese aventada é que
pode ter sido derramado a partir de navios que trafegaram ao longo da costa
brasileira, e não necessariamente de campos do governo ditatorial
venezuelano".
O ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles, disse que a resposta dada pelo governo Maduro sobre o óleo é
"descabida". "Porque ela diz que não há vazamento de campos, e a
hipótese não é de vazamento de campo, e sim o vazamento de um navio que tenha
transportado o óleo venezuelano. Isso pode ter sido abastecido lá. A investigação
da Marinha é nesse sentido", afirmou Salles, também nesta quinta.
No comunicado, a PDVSA
afirma que não recebeu nenhum relato de clientes ou subsidiárias sobre
vazamentos de petróleo perto do Brasil.
Manchas no litoral
As manchas de óleo começaram
a aparecer no litoral do Nordeste no início de setembro. Desde então, segundo
levantamento do Ibama, 139 locais de 63 municípios da região já foram atingidos
pela substância, distribuídos entre 9 estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão,
Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe (veja lista completa
de praias atingidas).
Nesta quinta, pesquisadores
da Universidade Federal da Bahia (Ufba) afirmaram que o petróleo que atinge o
litoral do Nordeste veio da Venezuela.
"Nossos estudos
agroquímicos evidenciam que o óleo é proveniente de uma bacia da Venezuela.
Foram diversas análises geoquímicas a partir da coleta dessas amostras. Esse
trabalho realmente revelou que se trata de um petróleo produzido na
Venezuela", afirmou Olivia Oliveira, diretora do Instituto de Geociências
da instituição.
Riscos e danos
O petróleo que apareceu nas
praias, bruto, é tóxico: uma complexa mistura de hidrocarbonetos que apresenta
contaminações variadas de enxofre, nitrogênio, oxigênio e metais. Por isso, é
importante evitar contato direto com o material. O Ibama orienta que banhistas
e pescadores não toquem o material ou pisem nele.
Os animais marinhos podem
ser afetados tanto pela ingestão da substância quanto pelo contato com ela. O
óleo já atingiu ao menos 15 tartarugas e uma ave bobo-pequeno ou furabucho
(Puffinus puffinus), conhecida pela longa migração. Nove dessas tartarugas
foram encontradas mortas ou morreram após o resgate. A ave também não resistiu
ao óleo.
O projeto Tamar na Bahia e
em Sergipe também suspendeu a soltura de filhotes de tartarugas marinhas.
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