O estado ainda não fez o pagamento dos salários do mês de
janeiro e a primeira folha do ano vai ser concluída no dia 13 de fevereiro. Há
50 meses, mais de 330 mil pessoas são atingidas por essa medida no Rio Grande
do Sul. Os atrasos e parcelamentos marcam a crise financeira, situação que se
estende desde julho de 2015, o primeiro mês com parcelamentos.
O calendário de pagamento foi divulgado nesta quinta-feira
(30). Os depósitos começam na sexta-feira (31) para quem ganha até R$ 2,2 mil
líquidos. A primeira parcela do 13° salário de 2019 também será depositada
nesta sexta.
A próxima data é 11 de fevereiro para quem recebe até R$ 5,5
mil. O total de funcionários terá o pagamento concluído até 13 de fevereiro,
segundo o governo.
O pagamento será possível graças à arrecadação do IPVA 2020,
quase R$ 50 milhões acima do projetado, além de ingresso de recursos do ICMS da
cesta básica e receitas extraordinários.
Servidores relatam dificuldades
Os quatro anos de atrasos nos salários levaram a professora
Bárbara de Cristo Silveira a pedir inúmeros empréstimos. As contas acumularam e
ela renegociou a dívida cinco vezes. O valor que começou em 1.300 reais, já
passa de 42 mil.
"Essa dívida de 40 mil reais é minha, que emboloto, é do
meu salário. Não vai ser cobrado do governo. Até 2027 vou estar pagando essa
dívida", explica Bárbara.
O policial militar Adão Luis Tarigo se aposentou em 2017,
depois de 36 anos de trabalho. Mesmo aposentado, ele segue recebendo parcelado
e já gastou cinco mil reais só em taxas cobras para antecipar os salários.
"Se você atrasa uma conta você paga juros, você é
penalizado. O estado, no entanto, atrasa o pagamento, simplesmente
atrasa", disse Adão.
Em 2019, uma promessa do novo governador deixou os servidores na expectativa pela volta do pagamento dos salários em dia. Mas o primeiro ano passou e os atrasos continuaram. O déficit do estado fechou em mais de R$ 3 bilhões. E em janeiro, os parcelamentos atingem 50 folhas de pagamento, 48 delas consecutivas.
Quem convive com os atrasos, consegue resumir a situação em um único sentimento: angústia. Nesse mês, a professora Bárbara precisou receber uma cesta básica.
"Jamais pensaria, em 23 anos de trabalho, estar passando por isso. Tem alunos meus que me trazem abacate, laranja, banana... para dividir o lanche comigo", contou emocionada.