*Com informações de Ponte.
O conflito entre policiais civis e militares de São Paulo ganhou um novo capítulo nesta semana. Dois deputados estaduais ligados à segurança pública, da chamada “bancada da bala”, entraram na jogada: um delegado, defendendo os civis, e um sargento, protegendo os militares.
A crise vem desde o início de agosto, quando um falso policial civil matou três PMs durante uma abordagem. Duas mulheres dos policias estão grávidas, conforme relevado pela Ponte.
Daí por diante o clima azedou entre as polícias. Houve abordagem truculenta a agentes infiltrados, injúria racial e abuso de autoridade, e, no fim de semana, o flagrante de dois policiais civis bêbados em uma blitz, segundo a PM. Os exames deram negativo.
Nem mesmo uma resolução da SSP para novas formas de abordagem resolveu a situação. E agora a contenda encontrou outra arena para acontecer, além das ruas das cidades paulistas: o WhatsApp.
“Vai ser essa a situação”, diz, em áudio compartilhado em grupos da rede. “Vamos começar a colocar esses PMs no lugar deles. Não pode fazer o que estão fazendo”.
Ele, inclusive, citou uma abordagem que sofrera em abril deste ano, quando bateu boca com PMs no Jardim Paulista, bairro rico da zona sul da cidade de São Paulo.
“Se quer tomar providência contra um policial civil, que tome direitinho, sem esculachar. Fizeram comigo, minha mulher e meu filho. Eu sei o que são esses caras quando querem zuar”, afirma no áudio.
A fala de Olim gerou a resposta do também deputado sargento Rubens Cláudio Siqueira Neri (Avante-SP). Ele cita a declaração de Olim e diz que “não vai fazer referência” aos policiais civis porque “sempre respeitou a Polícia Civil”.
“Estarei presente para sempre resguardar os nossos policiais militares. Se houver algum problema, seja aonde for, a hora que for, pode me ligar que eu vou também. Estarei presente”, promete Neri.
Ainda houve a tréplica de Olim, rebatendo Neri. “Você tem que ir junto comigo, mesmo, para ao menos colocar uma paz nisso. Já que não temos comandos que fazem isso, vamos nós”, diz, alegando não ter falado mal da PM.
No segundo áudio que enviou, Olim cobra que o sargento coloque seu telefone à disposição da tropa, assim como o delegado fez – ninguém atendeu o número na tarde de terça-feira (15/9), quando a Ponte tentou contato.
Olim foi além: disse ter vários itens da PM em sua mesa, o contrário não acontecendo com Neri e itens da Polícia Civil. “Tem brasão da Rota, roupa da PM, carrinho da PM… Não estamos aqui medindo força”. Ao finalizar, cobrou que os militares liberem os agentes quando virem algum “problema”.
“O que não pode acontecer é ter uma moto parada, porque quebrou, tomar uma multa o policial civil pelo PM, que poderia ter deixado ele ir embora sabendo que é policial”, afirma Olim, sugerindo que os policias passem pano para crimes cometidos entre eles.
Para a delegada Raquel Gallinati, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, a fala dos deputados é apenas uma forma de “mediar os conflitos.
“Os conflitos estão acontecendo. Esta é uma situação que entristece todos aqueles que estão no front da segurança pública, enfraquecendo institucionalmente ambas as polícias que tem a atribuição de combater o crime”, analisa a delegada.
Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, vê um problema maior na situação. Com uma crise dessas, aponta existir um comando ineficiente por parte do governo.
“É dificuldade de comando. Falta a secretaria da segurança fazer a coisa funcionar. Precisamos ter um secretário e um governador que comandem suas polícias”, pontua.
A resposta do governo de João Doria (PSDB) é o silêncio desde a morte dos PMs em agosto e os recentes casos de abordagens. Nem Doria, nem o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, se pronunciaram sobre o conflito em curso entre militares e civis.
A Ponte solicitou à SSP posicionamento sobre o novo capítulo dos conflitos entre as corporações e aguarda um posicionamento. Também entrou em contato com as assessorias de imprensa dos deputados, mas não obteve retorno.
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