O mês de abril registrou o recorde de feminicídios no estado de São Paulo em 2020, conforme o balanço da criminalidade realizado pela SSP-SP (Secretaria da Segurança Pública de São Paulo) e divulgado nesta segunda-feira (25). Foram 21 casos somente neste mês e 179 no total computado em todo o ano passado.
As estatísticas da violência contra a mulher — que incluem crimes como: homicídio (doloso e culposo), estupro, lesão corporal dolosa (intencional), constrangimento ilegal, ameaça, estupro de vulnerável e outros — contabilizam ocorrências registradas nas delegacias de polícia do estado. Os dados completos estão disponíveis no endereço: ssp.sp.gov.br/Estatistica/Pesquisa.aspx
No entanto, uma análise dos dados mês a mês revela algumas discrepâncias nos números, especialmente a partir do segundo trimestre do ano, logo após as mudanças provocadas por medidas de isolamento social para combater a disseminação da covid-19 adotadas pelas autoridades sanitárias.
Em maio, após o estado viver os 30 dias com o maior número de feminicídios no ano até então, houve nove registros desse tipo de crime — menos da metade do verificado no mês anterior. Já os meses de junho e agosto, ambos com oito casos, apresentaram os menores índices. Porém, julho (13), setembro (17), outubro (14) e novembro (20) foram mais violentos.
Pandemia e falta de análise aprofundada
Para Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getútlio Vargas) Rafael Alcadipani e integrante do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), as oscilações nos dados mensais podem ser explicadas, em parte, pela crise sanitária vivida no país. "As pessoas passaram a ficar mais em casa e [isso] passou a gerar muitos conflitos", avaliou.
No entanto, o professor considera difícil compreender as origens do problema em razão da falta de uma análise mais robusta dos casos por parte da segurança pública paulista que, segundo ele, se limita a divulgar somente os números de B.Os (Boletins de Ocorrência) da Polícia Civil.
"A SSP não faz análises aprofundadas para entender as causas desses indicadores e a gente fica meio que fazendo 'previsão do tempo'. Qualquer coisa além da pandemia [para explicar as discrepâncias] é puro achismo", afirmou.
Rafael Alcadipani explica que os B.O.s não podem ser os únicos componentes a serem avaliados quando se estuda o feminicídio ou a violência contra as mulheres em geral, pois cerca de 80% da origem desses crimes podem ser resultado de fatores ambientais.
"Essa divulgação é uma falsa transparência. Seria de verdade se tivesse na esteira da SSP equipes formadas que conheçam profundamente análise de dados, [além de] inteligência policial que soubesse explicar para a gente o que está afetando. É uma política de segurança pública pouco profissional e baseada no achismo", complementou.
Por outro lado, o professor Rafael Alcadipani vê uma tendência de redução nos casos de feminicídio no estado de São Paulo — em 2019, houve 184 crimes, cinco a menso que no ano seguinte (2020). "Existe uma pressão social muito grande Nunca falamos tanto em feminicídio como no ano passado", finalizou o especialista em segurança pública.
*Com informações de R7.
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