O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vetou
integralmente o projeto de lei que prorroga até o fim de 2027 a desoneração da
folha de pagamento de 17 setores da economia brasileira. Com a decisão do
petista, a medida termina em 31 de dezembro deste ano, com risco de perda de 1
milhão de empregos após o fim da validade da prorrogação. Os segmentos
atualmente desonerados, empresários, centrais sindicais e parlamentares pressionaram
o governo federal pela sanção da matéria. O veto deve ser derrubado pelo
Congresso, que aprovou com folga o projeto.
O veto à prorrogação da desoneração foi recomendado pelo
Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad, por meio de notas
técnicas. Pela medida, em vez de o empresário pagar 20% sobre a folha do
funcionário, o tributo pode ser calculado com a aplicação de um percentual
sobre a receita bruta da empresa, que varia de 1% a 4,5%, conforme o setor.
A contribuição é feita, mas passa a se adequar ao nível real
da atividade produtiva do empreendimento. Em outras palavras, as empresas que
faturam mais contribuem mais. Com isso, é possível contratar mais empregados
sem gerar aumento de impostos.
A matéria é defendida por parlamentares. O veto de Lula ao
projeto é contrário ao posicionamento de 84% dos deputados federais. Dos 513
parlamentares, 430 votaram a favor da proposta. Impedir a extensão da
desoneração também significa ir na contramão da manifestação dos senadores, que
aprovaram a matéria por votação simbólica, ou seja, quando não há contagem de
votos. Por isso, nesse cenário negativo, deve haver uma forte reação do
Congresso.
Autor do projeto de lei que pede a continuidade da
desoneração, o senador Efraim Filho (União Brasil-PB) afirmou, na última terça
(21), que o desafio do Brasil não é arrecadar mais dinheiro, e sim "gerar
emprego". O parlamentar defendeu a importância do projeto, que
"dialoga com a vida real" dos brasileiros, e afirmou que sem a
desoneração são esperadas 600 mil demissões.
Para o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), um dos
articuladores da proposta na Câmara, o veto causa um desgaste desnecessário
para o governo com diversos setores econômicos, ao potencialmente afetar mais
de 9 milhões de empregos. "Além disso, pode gerar um atrito com a dinâmica
do Congresso Nacional, que aprovou a proposta quase que por unanimidade. Esse
cenário prejudicará a relação com o Legislativo e, certamente, dificultará
futuras colaborações", avalia.
Entenda
O objetivo da desoneração é aliviar parcialmente a carga
tributária. A medida está em vigor desde 2011, adotada durante o governo da
ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Quando a concessão entrou em vigor, 56
setores eram contemplados, mas o ex-presidente Michel Temer (MDB) sancionou em
2018 uma lei que removeu 39 segmentos do regime. A medida valeria até 2021, mas
foi prorrogada pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL).
Preços
podem aumentar
Com o veto de Lula, o país pode ver a inflação oscilar. A
análise de especialistas consultados pela reportagem do R7 considera o cálculo
de empresas e centrais sindicais que afirmam que, sem a continuidade da medida,
há previsão de fechamento de 1 milhão de postos de trabalho e aumento no preço
final de serviços e produtos.
"De fato, tanto os empregos estarão ameaçados quanto os
custos das empresas vão se elevar. De uma forma ou de outra, toda a economia
nacional sofrerá o impacto dessa mudança: as empresas terão que cortar custos
para equilibrar as contas, podendo haver redução no número de empregados e
aumento no valor dos produtos, que pressionará a inflação", avalia o
economista Werton Oliveira.
A elevação dos preços ao consumidor final, segundo Oliveira,
traria como efeito de curto prazo um aumento da inflação. Por outro lado, com
as demissões gradativas, haveria uma diminuição do poder de compra dos
brasileiros em um segundo momento, o que faria os preços diminuírem, mas traria
prejuízo ao crescimento econômico.
Previdência
Social
A perda de arrecadação para a Previdência Social, caso não
houvesse a desoneração da folha de pagamento, teria sido de R$ 45,7 bilhões
entre 2018 e 2022, revela um estudo feito neste ano pela Associação das
Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais
(Brasscom).
A publicação mostra que, caso o mecanismo não existisse, a
perda de arrecadação da Previdência Social teria sido de R$ 1,4 bilhão em 2018,
R$ 5,7 bilhões em 2019, R$ 9,5 bilhões em 2020, R$ 13 bilhões em 2021 e R$ 16
bilhões em 2022. O contexto atual do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
é de saldo negativo.
Com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), os representantes observaram que, em termos de evolução da empregabilidade, os setores desonerados contrataram mais de 1,2 milhão de novos trabalhadores entre 2018 e 2022, o que corresponde a cerca de 15,5% de crescimento. Sem a geração desses empregos, haveria uma queda na arrecadação previdenciária.
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