Ataque 'limitado' atribuído a Israel no Irã serve para baixar temperatura no conflito, dizem analistas - Irã não deu sinais de que irá retaliar a ação atribuída aos israelenses.
O ataque limitado ao Irã nesta sexta-feira (19), atribuído
por autoridades americanas a Israel, sugere que os dois arqui-inimigos poderiam
procurar baixar a temperatura do conflito em direção a uma desescalada —embora
as relações entre os dois sejam explosivas, dizem analistas.
Isso porque o ataque atribuído a Israel foi pequeno, e o Irã
não deu sinais de que irá retaliar.
A comunidade internacional teme que décadas de tensões entre
Israel e o Irã se transformem em um confronto direto, tendo como pano de fundo
a guerra entre o Exército israelense e o grupo terrorista Hamas, apoiado por
Teerã, na Faixa de Gaza.
Segundo autoridades americanas citadas por várias emissoras
do país, as explosões registradas nesta sexta-feira no centro do Irã são uma
resposta de Israel aos ataques lançados por Teerã contra o território
israelense no sábado (13).
Israel prometeu responder ao ataque sem precedentes do Irã,
realizado com cerca de 300 mísseis e drones, cuja maioria foi interceptada.
Nenhuma autoridade do país se manifestou sobre o que houve no Irã até a última
atualização desta reportagem.
Nesta sexta-feira, o Irã parecia querer atenuar a situação,
salientando que o suposto ataque israelense não envolveu mísseis e que as suas
instalações nucleares estavam seguras.
"Parece que estamos em um ponto em que ambos os lados
procuram romper o atual ciclo de escalada, com Israel executando um ataque
muito limitado para demonstrar que respondeu aos ataques iranianos, e Teerã
rapidamente minimizando o incidente para não ser forçado a responder",
afirmou Julien Barnes-Dacey, do Conselho Europeu de Relações Internacionais, um
think tank, à AFP.
Também à AFP, Hasni Abidi, do Centro de Estudos e Pesquisa
sobre o Mundo Árabe e Mediterrâneo, com sede em Genebra, afirmou que os dois
ataques iranianos e israelenses foram "quase simétricos", o que
poderá levá-los a pensar que podem deixar por isso mesmo.
"O ataque israelense atingiu uma base aérea que havia
sido usada como plataforma para lançar mísseis e drones contra Israel na semana
passada", disse. E "os israelenses tiveram o cuidado de não atingir
posições nucleares importantes na mesma província, em Isfahan", disse.
Sem
interesse na escalada
A situação pode apaziguar Teerã, que "não tem interesse
em que esta tensão continue", uma vez que a sua "prioridade
absoluta" é continuar com o seu programa nuclear, essencial para a sobrevivência
do regime, disse Abidi.
Durante o seu ataque a Israel no fim de semana passado, o Irã
também foi capaz de avaliar "as capacidades de defesa aérea de
Israel", assim como a mobilização "sem precedentes" dos Estados
Unidos e, mais amplamente, do campo ocidental ao qual se juntou a Jordânia,
acrescentou.
Jonathan Lord, diretor do programa de segurança do Oriente
Médio do CNAS (centro para uma nova segurança americana, na sigla em inglês),
afirmou à Reuters que há uma série de alvos que, se quisesse, Israel poderia
ter atingido nas proximidades de Isfahan.
"A instalação nuclear de Natanz está próxima, assim como
instalações de produção para drones e outras capacidades avançadas de mísseis
balísticos. Eles escolheram este alvo provavelmente porque não era nenhum
daqueles e poderia demonstrar que, embora Israel reserve o direito de atacar
esses alvos mais sensíveis, eles não o fariam esta noite".
Prudência
O Irã lançou mais de 350 projéteis contra Israel no fim de
semana. Quase todos eles foram interceptados.
Embora existam sinais que apontam para uma desescalada, os
especialistas preferem permanecer cautelosos e indicam que há incerteza em
torno dos objetivos de Israel.
"Na minha opinião, Israel está em uma lógica de escalada
e não de desescalada", disse Agnès Levallois, do Instituto de Pesquisa e
Estudos sobre o Mediterrâneo e o Oriente Médio.
"Atacar o Irã é uma forma de obter um apoio
internacional muito maior", analisou, referindo-se ao fato de alguns
países árabes acreditarem que Teerã e o seu programa nuclear são por si só um
fator de desestabilização regional.
A especialista destacou ainda a natureza imprevisível do
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, cujo governo decidiu
responder ao ataque iraniano apesar das advertências de Washington.
"Há coisas que parecem óbvias e razoáveis, mas no
terreno temos um ator (...) que toma decisões que parecem ir contra os próprios
interesses de Israel", disse à AFP.
Israel também intensificou os seus ataques contra o movimento
pró-iraniano libanês Hezbollah no sul do Líbano, o que poderia levar este
último a querer "reparar a indignação causada ao Irã", cujos vários
oficiais foram recentemente mortos por Israel.
"A situação regional como um todo permanece
incrivelmente febril, com o confronto entre estes dois países mais direto do
que nunca", declarou Julien Barnes-Dacey.
Em um cenário mais otimista, Agnès Levallois acredita ser
possível que os Estados Unidos tenham aceitado que Israel respondesse desta
forma, para evitar uma reação mais forte.
Porque, segundo ela, "os riscos são muito grandes"
para os Estados Unidos, para os países do Golfo e para o próprio Israel.
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