Atenção no desenvolvimento de criança com autismo pode diminuir prejuízo na comunicação - Aprendizagem varia de criança para criança, mas abordagem individualizada pode levar a resultado positivo na aquisição de conhecimento
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição de
desenvolvimento neurológico que afeta a comunicação, o comportamento e a
interação social e atinge uma criança em cada 36, de acordo com estimativa do
Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos. Enquanto
isso, os dados sobre o transtorno no Brasil são escassos – situação que o País
tenta corrigir com o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que pela primeira vez inclui perguntas sobre o
assunto e que deve revelar o resultado ainda neste ano. Independentemente
disso, o reconhecimento precoce da condição durante a infância pode facilitar o
desenvolvimento intelectual e motor da pessoa com deficiência durante o
crescimento.
Segundo o neurocientista Erikson Furtado, professor da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, ainda que os sintomas de
TEA sejam variáveis, a dificuldade de aprendizagem é comum e, ainda que a
deficiência intelectual não seja obrigatoriamente uma certeza de diagnóstico de
autismo, as dificuldades de aprendizagem são levadas em consideração.
Assim, nos casos em que ela está presente, o desenvolvimento
das habilidades escolares pode ser desafiador para algumas crianças, passando
pela educação básica. Enquanto indivíduos neurotípicos já participam de
atividades preparatórias de alfabetização e de controle motor, em crianças com
autismo “o envolvimento nessas atividades pode ser atrasado, pode demorar a
acontecer e acaba impactando também as outras aquisições posteriores, como a
escrita e a leitura”, explica o professor.
Dessa forma, a observação de como anda o desenvolvimento das
condições intelectuais e motoras da criança, por parte de cuidadores e
educadores, é importante para que essas habilidades sejam tratadas da melhor
forma possível.
O médico explica que o processo de aprendizagem varia de
criança para criança e que, apesar das dificuldades, a abordagem
individualizada pode levar a resultados positivos na aquisição de conhecimento.
“Os professores têm que reconhecer que isso é uma característica dessas
crianças, mas que não significa necessariamente incapacidade de aquisição”,
indica.
Diagnóstico
precoce
Para que intervenções bem sucedidas sejam efetuadas, Furtado
ressalta a importância do diagnóstico precoce e que existam melhores
possibilidades de uma resposta positiva “às intervenções, especialmente quando
a gente pensa nas crianças mais jovens”, pois “há uma certa tendência de piora
com o avanço da idade” em certos aspectos do desenvolvimento.
Alguns sinais que podem ser observados precocemente incluem a
dificuldade no contato visual e comportamento distante ou pouco responsivo.
Além disso, pode haver problemas alimentares e atraso na linguagem, como demora
em falar ou dificuldade em se comunicar verbalmente. Furtado explica que, se a
criança tem menos de três ou quatro anos de idade e apresenta essas
características, o mais importante é levantar a suspeita e acompanhar o
desenvolvimento de perto.
Ainda assim, o médico alerta que outros problemas, como
déficit intelectual, condições emocionais atípicas ou problemas sensoriais,
podem se confundir com o TEA, sendo necessária a avaliação de especialistas na
área para evitar diagnósticos precipitados. Porém, ele reforça que é importante
considerar, também, o contexto em que a criança vive, incluindo sua família e
recursos disponíveis.
Com isso, intervenções precoces focadas na comunicação social
podem ajudar a promover habilidades sociais e de comunicação desde cedo. Para o
especialista, isso é crucial para o desenvolvimento saudável da capacidade de
interagir e se comunicar que, segundo ele, são alguns dos maiores desafios para
a pessoa autista. “Aquele paciente que, por várias razões, por limitações de
acesso ou falta de diagnóstico, permaneceu todas essas fases da vida longe de
uma intervenção adequada, vai estar um pouco mais prejudicado ao iniciar essas
intervenções mais tardiamente”, complementa.
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