Na gravação,
publicada na terça-feira (14), o deputado reconhece que o Pix não será taxado,
mas insinua que a medida poderia estar nos planos do governo do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) mais adiante. “Não, o Pix não será taxado, mas
não duvido que possa ser”, diz Nikolas.
O
parlamentar oposicionista dá a entender que as mudanças no monitoramento de
transações eletrônicas por parte da Receita Federal teriam como objetivo a
cobrança de Imposto de Renda (IR) de pessoas que movimentam valores cuja origem
não tenha sido comprovada. O governo rechaça qualquer ligação entre os
controles da Receita e a cobrança de IR.
O vídeo de
Nikolas Ferreira viralizou nas redes sociais nas últimas 24 horas. O nome do
deputado está entre os assuntos mais comentados do X (antigo Twitter) e também
aparece na lista dos temas mais buscados no Google Trends.
“O governo
quer saber como você ganha R$ 5 mil e paga R$ 10 mil de cartão, mas não quer
saber como uma pessoa que ganha um salário mínimo faz para sobreviver pagando
luz, moradia, educação, compra do mês e gastos”, afirma o deputado na gravação.
Nikolas
ironiza, ainda, ao dizer que “o amor está custando caro demais” e que o governo
só pensa em arrecadar, mas não oferece nada em troca. “Se a gente não parar o
Lula, ele vai parar o Brasil”, completa o deputado.
Por volta de
9 horas desta quarta-feira (15), o vídeo já batia 129 milhões de reproduções no
perfil de Nikolas no Instagram, com 3,6 milhões de curtidas e 224 mil
comentários.
Quais foram as
mudanças feitas pela Receita
Em setembro
do ano passado, por meio de uma Instrução Normativa (IN), a Receita Federal
anunciou mudanças no processo de monitoramento de transações financeiras.
Apesar de ter sido editada em 2024, a norma só entrou em vigor em 1º de janeiro
de 2025.
De acordo
com a Receita, além das “instituições financeiras tradicionais, as entidades
como administradoras de cartão de crédito e instituições de pagamento devem
enviar informações” por meio de uma ferramenta específica de comunicação, a
e-Financeira.
A
e-Financeira opera dentro do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped),
instituído em 2007 e que processa, por exemplo, as notas fiscais eletrônicas.
Segundo o
texto da IN, movimentações globais ou saldo, em cada mês, por tipo de operação,
terão de ser informados à Receita quando ultrapassarem R$ 5 mil (para pessoas
físicas) e R$ 15 mil (pessoas jurídicas). Até então, os limites eram menos
restritivos, de R$ 2 mil e R$ 5 mil, respectivamente.
Desde que as
mudanças entraram em vigor, o tema ganhou as redes sociais e foi usado por
figuras ligadas à oposição ao governo Lula, que acusaram o governo de tributar
as transações via Pix – o que é falso – e de buscar a cobrança maior de IR.
Em
comunicado divulgado no dia 8 de janeiro, a Receita esclareceu que não haverá
qualquer cobrança de imposto para transferências digitais. De acordo com o
órgão, a IN apenas reforça uma fiscalização que já existia e tem o objetivo de
“oferecer melhores serviços à sociedade”.
Ainda
segundo a Receita, o reforço na fiscalização não desrespeita leis que tratam
dos sigilos bancário e fiscal, como também chegou a circular nas redes sociais.
“A medida
visa a um melhor gerenciamento de riscos pela administração tributária, a
partir da qual será possível oferecer melhores serviços à sociedade, em
absoluto respeito às normas legais dos sigilos bancário e fiscal”, diz o órgão.
De acordo
com a Receita, a e-Financeira não identifica o destinatário das transferências
de uma pessoa ou empresa para terceiros, via Pix ou Transferência Eletrônica
Disponível (TED). O sistema soma todos os valores que saíram da conta,
inclusive saques. Se o limite de R$ 5 mil para pessoa física ou de R$ 15 mil
para pessoa jurídica for ultrapassado, a instituição financeira informará a
Receita Federal.
O que diz o
Ministério da Fazenda
No último
dia 9 de janeiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), publicou
um vídeo no qual rebate uma série de notícias falsas envolvendo a suposta
criação de novos tributos e a taxação do Pix, entre outros temas.
“Pessoal,
vamos prestar atenção. Está circulando uma ‘fake news’ que prejudica o debate
público, prejudica a política, prejudica a democracia. Essas coisas estão
circulando e nem sempre as pessoas têm tempo de checar as informações. Essas
coisas são mentirosas e, às vezes, eles misturam com uma coisa que é verdadeira
para confundir a opinião pública”, afirmou Haddad, na ocasião.
O
secretário-executivo da pasta, Dario Durigan, número 2 da Fazenda,
também negou qualquer modificação no Pix, ao participar, na noite de
terça-feira (14), do Onde Investir 2025, evento organizado pelo InfoMoney.
Durigan
explicou que a nova regra da Receita Federal foi necessária para padronizar o
envio de informações de movimentações por instituições financeiras, já que
algumas reportavam transações com o Pix, enquanto outras tinham dúvidas sobre a
necessidade de incluir o serviço nas prestações de contas.
Durigan
ainda ressaltou a importância da fiscalização no combate ao crime organizado,
ao destacar que “a Receita é a grande responsável por subsidiar autoridades
criminais na apuração de crimes”.
“Faça e
receba seus Pix, a Receita Federal não quer prejudicar ninguém, pelo contrário,
quer proteger o cidadão brasileiro”, concluiu.
O assunto já
foi tratado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na semana passada. A
Federação Brasileira de Bancos (Febraban) também já veio a público para
combater as mentiras sobre o tema.
Quem é Nikolas
Ferreira
Nikolas
Ferreira tem 28 anos e é deputado federal em primeiro mandato. Ele foi o
deputado mais votado do país nas eleições de 2022, com 1,47 milhão de votos. Na
história da Câmara dos Deputados, é o terceiro mais votado, atrás apenas de
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em 2018, e Enéas Carneiro (Prona), em 2002.
Antes de chegar ao Parlamento federal, Nikolas foi vereador em Belo Horizonte (MG), entre 2021 e 2023. Ele está no PL desde 2022. Antes, passou por PSL (2018-2020) e PRTB (2020-2022).
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