O ano letivo começa com a restrição do uso de celulares nas escolas públicas e privadas do país. A determinação é da Lei Federal 15.100, sancionada no início de janeiro deste ano, e que procura limitar o uso de dispositivos eletrônicos portáteis nas escolas públicas e privadas, tanto nas salas de aula quanto no recreio e intervalos, mas permite o uso pedagógico, ou seja, quando autorizado pelos professores.
A nova
medida tem como meta proteger as crianças e adolescentes dos impactos negativos
das telas na saúde mental, física e psíquica, segundo o Ministério da Educação
(MEC) e já foi adotada em outros países, como França, Espanha e Dinamarca.
Porém, por ser uma novidade no Brasil, a nova lei tem gerado dúvidas na
comunidade escolar. Para tentar esclarecer, a Agência Brasil preparou uma série
de perguntas e respostas sobre o que a nova lei libera ou proíbe, com base em
informações do MEC, do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro
e Região (SinproRio) e do Instituto Alana.
Quando começa a
valer a restrição dos celulares nas escolas?
Já está em
vigor a Lei Federal 15.100, que proibiu o uso de celulares durante as aulas,
recreios ou intervalos no ensino básico (infantil, fundamental e médio). A
medida foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 13 de
janeiro de 2025. Para que a lei seja aplicada corretamente, o MEC prepara uma
regulamentação que deve ser divulgada até o fim de fevereiro. Até lá, cabe às
instituições de ensino definirem as próprias estratégias de implementação. Para
isso, o ministério divulgou manuais para escolas e redes de ensino, citando
casos onde a proibição já está em vigor e dados para embasar a medida.
Quais as razões para
proibir o celular?
Segundo o
Ministério da Educação, a medida foi tomada diante das fartas evidências sobre
o impacto negativo dos dispositivos no aprendizado, na concentração e na saúde
mental dos jovens. O objetivo é permitir que os alunos participem das
atividades e interajam. Estudos avaliados pelo MEC apontam que o uso excessivo
de telas prejudica o desempenho acadêmico, reduz a interação social e aumenta
as chances de depressão e ansiedade entre os jovens.
Dados do
Programa de Avaliação de Estudantes (Pisa), uma avaliação internacional,
concluiu que oito em cada dez estudantes brasileiros de 15 anos assumiram ter
se distraído com o celular nas aulas de matemática.
“Sabemos que
o mundo digital é importante e o quanto a educação digital é também uma
dimensão fundamental”, disse, em nota, a secretária de Educação Básica do MEC,
Kátia Schweickardt. "Queremos otimizar o uso [dos dispositivos] e
potencializar os benefícios, mas mitigando os efeitos nocivos", completou.
A escola vai liberar
tablets, no lugar dos celulares?
Não. A nova
lei restringe também o uso aparelhos eletrônicos portáteis pessoais, como
tablets, relógios inteligentes conectados à internet ou não nas escolas.
Como devem ser
guardados os aparelhos nas escolas?
As escolas
têm autonomia para definir como vai funcionar a nova lei em cada instituição e
as escolas devem definir as regras junto com pais, professores e alunos.
Algumas escolas do Rio de Janeiro e de São Paulo já orientam estudantes a
manter os aparelhos desligados nas mochilas, mas pode haver a opção de colocar
em armários individuais ou caixas coletivas.
Qual a punição para
quem ligar o celular fora de hora?
O MEC
explicou que cada escola deve determinar como fazer valer a lei em sala de aula
em parceria com a comunidade escolar e como fiscalizar. Essa orientação também
está no guia disponível na página da internet do Ministério.
Haverá multa às
escolas que não cumprirem a lei?
A
fiscalização do cumprimento da nova lei é uma atribuição das secretarias
municipais e estaduais de educação, mas a lei não determina multas.
Quando o celular
pode ser usado?
A lei
permite o uso pedagógico da ferramenta. Em determinadas situações, o celular
pode enriquecer as práticas de ensino, especialmente em contextos de
desigualdade, onde há necessidade de desenvolver educação digital e midiática.
Em muitas escolas, o celular é uma ferramenta pedagógica e o material didático
é eletrônico.
Como os alunos
poderão se comunicar com as famílias?
Para
questões de acessibilidade, inclusão, de saúde ou emergências, o celular não
foi proibido. Aqueles que precisam se comunicar com os pais para organizar a
rotina familiar devem fazê-lo sob orientação e conhecimento da escola.
Qual o papel dos
pais?
Nas
orientações às escolas, o MEC reforça a atribuição dos pais, de modo que sejam
informados sobre as regras e reforcem as medidas em casa, esclarecendo também
sobre os impactos negativos do uso das telas.
"Estamos
fazendo uma ação na escola, mas é importante conscientizar os pais para limitar
e controlar o uso desses aparelhos fora de sala de aula, fora da escola",
disse o ministro da Educação, Camilo Santana.
O material
do ministério destaca ainda como efeitos negativos do uso inadequado das telas
atrasos no desenvolvimento e na linguagem, miopia, problemas no sono e
sobrepeso, citando pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Quais os benefícios
esperados com a medida?
Segundo o
presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região
(SinproRio), Elson Simões de Paiva, a medida favorece a socialização dos
jovens. “A socialização deles está sendo feita através de celular, mais de
pessoa com pessoa. Então, é importante o uso do celular ser mais controlado
dentro das escolas”, disse ele, cobrando também mais esclarecimentos por parte
das redes públicas de ensino sobre como as novas medidas serão aplicadas.
Há recomendações
para as crianças pequenas?
Na infância,
há uma preocupação extra, depois do anúncio de afrouxamento da moderação de
conteúdos por plataformas. O pesquisador Pedro Hartung, diretor de Políticas e
Direitos das Crianças do Instituto Alana disse à Agência Brasil que os menores
estão mais suscetíveis agora a crimes no ambiente digital.
"Estamos
falando, por exemplo, de um crescimento de imagens advindas de violência contra
a criança, que podem ser utilizadas, inclusive, para ameaçá-las”, destacou. “Um
crescimento, por exemplo, de cyberbullying, e da exposição não autorizada da
imagem e informações pessoais, ou a conteúdos que ou representam ou são mesmo
tratamento cruel e degradante, discurso de ódio, incitação e apologia a
crimes".
Para creche e pré-escola, o MEC recomenda atividades desplugadas, priorizando experiências que estimulem a criatividade, a interação e o desenvolvimento motor das crianças. Nos ensinos fundamental e médio, a recomendação é sempre priorizar, quando possível, o uso de dispositivos digitais da própria escola.
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