Por Gean Mendes - F5 Conchal
Na noite desta quinta-feira (27), a Câmara Municipal de
Conchal realizou uma sessão extraordinária para votar a revogação do aumento
salarial que os próprios vereadores haviam aprovado dias antes. O projeto de
resolução anulado incluía o reajuste nos vencimentos dos vereadores.
A proposta havia sido aprovada no dia 17 de março, sem
qualquer discurso de justificativa por parte dos parlamentares. O projeto
passou em silêncio — sem que nenhum dos 11 vereadores usasse a tribuna para
explicar os motivos do reajuste à população.
Na sessão de revogação, porém, a eloquência surgiu. Muitos
dos que se calaram no dia da aprovação se pronunciaram longamente desta vez —
não apenas para reconhecer o erro, mas para criticar a imprensa, repreender os
eleitores e até se vitimizar diante das cobranças públicas.
📉
O reajuste e seus impactos
Na proposta original, o salário dos vereadores saltaria de R$
6.330,56 para R$ 8.448,86 — um aumento de 33,46%. O impacto anual desses
reajustes seria alto. Em quatro anos, o montante extra seria de aproximadamente
R$ 1,3 milhão. Valores consideráveis para uma cidade com cerca de 30 mil
habitantes.
Embora os reajustes estejam amparados pela legislação, o
problema não foi apenas jurídico. Foi político e moral. O projeto tramitou de forma
apressada, sem debate, sem consulta pública, sem qualquer justificativa verbal
na tribuna. E isso — a falta de transparência — foi o que despertou a revolta
popular.
🎙️
As falas e reações na sessão de revogação
Robinho
O Vererador Robinho reconheceu o erro técnico e elogiou a
atitude do atual presidente em procurar o Tribunal de Contas. Disse que “todo
ser humano erra” e criticou a forma como parte da população reagiu.
“Infelizmente,
as pessoas querem simplesmente fazer barulho. [...] O ódio atrai mais do que o
diálogo.”
Robinho falou em empatia e paciência, mas ignorou que o papel
do cidadão é justamente cobrar quando há falta de transparência — especialmente
quando se trata do uso do dinheiro público.
Luiz da
Farmácia
Foi direto ao ponto: admitiu que votaram sem analisar.
“O
principal erro foi a gente votar sem analisar, sem ver. [...] O erro existiu,
isso é um fato. Mas estamos corrigindo hoje.”
Ainda assim, tentou amenizar o episódio dizendo que ninguém
agiu de má-fé. Mas boa intenção, nesse caso, não justifica descuido com
decisões que impactam o bolso do contribuinte.
Eliseo
Tognolli
Proferiu o discurso mais agressivo da sessão. Disparou contra
a Rádio Águas da Prata, chamando repórteres e radialistas de “incompetentes” e
“desrespeitosos”. Disse que os profissionais da imprensa deveriam ter ido à
Câmara para “entender” o que estava acontecendo.
“Eu não sei
o nome desse repórter incompetente lá. [...] Que venha aqui saber o que está
acontecendo primeiro, antes de falar.”
A crítica do vereador revela total desconhecimento (ou
desprezo) pelo papel da imprensa em uma democracia. Jornalistas não devem pedir
autorização de vereador para noticiar um fato público. Devem informar. E foi
isso que fizeram.
Leandro
Modas
Fez um longo discurso emocionado e religioso. Reforçou que o
erro existiu, mas pediu perdão e disse que ninguém vai impedi-lo de continuar
na política.
“Quem me
para na política hoje em Conchal, sou eu mesmo.”
Leandro fez questão de destacar suas ações em escolas, postos
de saúde e redes sociais. Mas esqueceu que nenhum trabalho pessoal justifica um
erro coletivo que pesa no orçamento da cidade. Ele afirmou que “guarda as
pedras” — mas precisa também guardar o senso de responsabilidade pública.
Chica
Reconheceu o erro, mas afirmou que todos os vereadores foram
induzidos pelo diretor da Câmara, Edson. Segundo ela, foi informado de que
havia um apontamento do Tribunal de Contas exigindo a correção inflacionária —
o que, mais tarde, se mostrou equivocado.
“Nós não
fizemos isso sozinhos. [...] A explicação foi que não era aumento, era correção
do índice.”
Chica também se queixou da reação popular, afirmando que foi
vítima de difamação nas redes sociais. Mas é importante lembrar: críticas não
são ofensas e se difamaram, o Fórum está logo ali... E quem ocupa cargo público deve ter maturidade para distinguir uma
coisa da outra.
Yago
(Presidente da Câmara)
Assumiu a responsabilidade pela condução da votação e disse
que, após consulta ao Tribunal de Contas, decidiu revogar o aumento.
“Eu estou
aqui de peito aberto. [...] Esse erro não foi para tirar vantagem de ninguém.”
Yago procurou humanizar os colegas, citando exemplos pessoais
para defender a integridade dos vereadores. Mas a questão não é pessoal: é
institucional. O erro existiu. A revogação foi necessária. E o povo tem todo o
direito de cobrar.
📢
A imprensa não bajula
É preciso lembrar, com toda educação, que a imprensa não tem
o dever de proteger político. Tem o dever de proteger a sociedade, expondo os
fatos com clareza, responsabilidade e independência. E foi isso que ocorreu.
Nenhuma mentira foi dita. Nenhuma calúnia foi publicada. Apenas a verdade — e
ela incomoda quem erra.
O que causa mais estranheza é que ninguém usou a tribuna para
justificar o aumento na hora da votação. Mas, para se defender das críticas e
atacar a imprensa, muitos foram rápidos no microfone. Que isso sirva de alerta.
⚖️ Nota F5: erraram, revogaram, mas atacaram quem os
cobrou
A decisão de revogar o aumento foi acertada. Mas o
comportamento de alguns vereadores ao se defenderem foi decepcionante. Tentaram
transferir a culpa, vitimizar-se e atacar os instrumentos democráticos que
garantem o equilíbrio de poder.
Vereadores não são vítimas. São representantes pagos com
dinheiro do povo. E quando erram, devem ser cobrados — com firmeza, sim, mas
também com consciência. A população de Conchal cumpriu seu papel. A imprensa
também.
Agora é a vez dos parlamentares mostrarem que aprenderam com
o erro — e que estão dispostos a agir com mais responsabilidade daqui pra
frente.
Um lembrete necessário: vereadores não são pagos para errar
Sim, todo ser humano está sujeito a falhas. Mas quem ocupa um
cargo eletivo, custeado com recursos públicos, carrega uma responsabilidade
maior. Os erros de um vereador não são apenas administrativos — podem refletir
diretamente na vida de milhares de pessoas.
O caso do aumento salarial dos parlamentares de Conchal,
aprovado sem justificativa pública e revogado após forte pressão popular,
escancarou imaturidade política, falha de condução e ausência de zelo institucional.
Ainda que se alegue má orientação ou falhas técnicas, todos os vereadores são
corresponsáveis. Todos votaram. Ninguém se opôs. Ninguém alertou. O recuo só
veio quando o povo reagiu — como deveria.
A população de Conchal demonstrou que está desperta, atenta,
crítica — e disposta a cobrar. Isso é democracia na prática. O eleitor não tem
compromisso com o conforto do político. Ele tem compromisso com o futuro da
cidade. E esse compromisso se cumpre fiscalizando, denunciando, elogiando
quando necessário e criticando sempre que for preciso.
Vereador não é rei. Não está acima do povo. Está a serviço
dele. E quem não suporta ser cobrado, não deveria ocupar cargo público.
Para os vereadores: que aprendam sobre responsabilidade,
escuta e humildade. Para a população: que siga vigilante, firme, presente. Para
a imprensa: que não recue diante de intimidações — e continue cumprindo seu
papel com ética e coragem.
O erro foi cometido. A revogação, feita. Mas o desgaste está
imposto. E agora, resta uma única forma de reparo: agir com mais
responsabilidade, transparência e respeito à população daqui pra frente.
A imprensa
não inventa: ela noticia
Os fatos ocorreram em plenário. A votação foi pública. A
decisão de aumento salarial foi real — e unânime. O que a imprensa fez foi seu
dever: informar o povo sobre algo que afeta diretamente o orçamento do
município. Se houve incômodo, foi pelo conteúdo da decisão — não pela sua
divulgação.
E mais: fazer cortesia com o dinheiro dos outros não é
virtude. Nenhuma emenda, recurso ou benefício é um presente pessoal de
vereador. Tudo vem do orçamento público. Tudo sai do bolso do contribuinte.
Que fique claro: imprensa livre não é problema. É parte da
solução. E o povo de Conchal, hoje, sabe exatamente o tamanho do seu poder.
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