Venezuela impõe tarifa de até 77% sobre produtos brasileiros, surpreende aliados e amplia tensão comercial com o Brasil
A decisão do
governo da Venezuela de taxar produtos brasileiros com tarifas que chegam a 77%
gerou desconforto diplomático e apreensão entre empresários e autoridades
brasileiras. A medida, que contraria os termos do Acordo de Complementação
Econômica nº 59 assinado no âmbito da ALADI (Associação Latino-Americana de
Integração), pegou de surpresa exportadores — especialmente de Roraima, estado
que depende fortemente do comércio com o país vizinho.
Até então,
diversos produtos brasileiros tinham isenção tarifária garantida pelo acordo
firmado em 2014. No entanto, nas últimas semanas, cargas embarcadas com destino
à Venezuela passaram a ser tributadas de forma inesperada. Itens antes isentos
agora enfrentam tarifas entre 15% e 77%, sem aviso prévio nem renegociação
formal entre os países. A medida é vista por especialistas como uma violação
unilateral dos compromissos assumidos por Caracas.
O governo
brasileiro, por meio do Itamaraty, tenta entender os motivos por trás da
medida. Uma das hipóteses em análise é de que a aplicação das tarifas esteja
relacionada a mudanças no sistema eletrônico de controle alfandegário
venezuelano. Ainda assim, o setor empresarial brasileiro considera pouco
provável que se trate apenas de um erro técnico. A Câmara de Comércio
Brasil–Venezuela já enviou um relatório técnico à embaixada brasileira em
Caracas solicitando explicações formais.
O episódio
agrava ainda mais uma relação já marcada por impasses econômicos. A Venezuela
acumula uma dívida com o Brasil superior a US$ 1,7 bilhão, referente a
financiamentos de obras e serviços executados por empresas brasileiras. Apesar
das diversas tentativas do governo Lula de renegociar o pagamento, o regime de
Nicolás Maduro não respondeu aos pedidos de diálogo e tampouco apresentou
proposta de quitação ou parcelamento.
O contraste entre os discursos diplomáticos e as atitudes práticas do governo venezuelano torna a situação mais delicada. Em 2023, Lula recebeu Maduro em Brasília e defendeu a reinserção da Venezuela no cenário regional. Entretanto, apesar da reaproximação política e da postura amistosa adotada publicamente, o Brasil barrou a entrada da Venezuela no BRICS, em decisão que contrariou Caracas.
Internamente,
o governo Maduro tem adotado medidas severas para compensar a queda de
arrecadação provocada pela saída da
petroleira Chevron. Relatórios apontam que 77% das empresas privadas
venezuelanas enfrentam forte pressão tributária e muitas já planejam estagnar
ou reduzir suas operações. O aumento generalizado das tarifas pode ser uma
tentativa desesperada de reforçar a receita fiscal.
Na prática,
no entanto, a decisão afeta diretamente a economia brasileira e acende um
alerta sobre a confiabilidade comercial da Venezuela. Mesmo sendo considerada
uma aliada política do governo Lula, a postura de Caracas não condiz com o
espírito de integração e respeito mútuo esperado entre países da região. A
tensão é ainda mais significativa quando se compara a tarifa venezuelana — que
chega a 77% — com a recente ameaça de 50% de tarifa imposta pelos Estados
Unidos a produtos brasileiros.
Enquanto o governo brasileiro busca respostas e avalia medidas diplomáticas, empresas afetadas cobram agilidade e transparência. A retomada de um comércio saudável entre os dois países dependerá da disposição de Maduro em respeitar acordos internacionais e do esforço do governo brasileiro em proteger os interesses econômicos nacionais, mesmo diante de aliados políticos.
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