Senado aprova reforma tributária; texto volta à Câmara - Relator acatou seis emendas durante discussão em plenário
O Senado aprovou na noite de quarta-feira (8) o texto-base da
reforma tributária sobre o consumo. Tanto no primeiro quanto no segundo turno o
placar foi o mesmo: 53 a 24. A votação em primeiro turno foi concluída pouco
depois das 19h, já o resultado do segundo turno foi conhecido duas horas
depois. A aprovação da PEC exigia o voto de pelo menos 49 dos 81 senadores.
Como a PEC passou por mudanças no Senado, terá de voltar à
Câmara dos Deputados para uma nova votação. Os parlamentares esperam concluir a
tramitação nas duas Casas até o final do ano. Por causa da complexidade da
proposta, os senadores optaram por não fatiar o texto, promulgando a parte
aprovada e deixando as alterações para os deputados votarem.
Após a aprovação em segundo turno, o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco, afirmou que a reforma tributária “se impôs porque o Brasil não
podia mais conviver com o atraso”. Segundo ele, as mudanças na tributação sobre
o consumo estimularão o desenvolvimento econômico, ao substituir o “carnaval
tributário” existente até agora no Brasil, citando uma expressão do
tributarista Augusto Becker, e unificar tributos.
“Ao consolidar inúmeros tributos em apenas três, o Imposto
sobre Bens e Serviços, a Contribuição sobre Bens e Serviços e o Imposto
Seletivo, o texto vai reduzir a complexidade burocrática, o que possibilitará
às empresas concentrar recursos e esforços em seus negócios principais,
fomentando a inovação e estimulando o crescimento econômico”, ressaltou
Pacheco.
Durante as discussões em plenário, que começaram por volta
das 15h, o relator da proposta de emenda à Constituição (PEC), senador Eduardo
Braga (MDB-AM), acatou seis novas emendas que ampliam as exceções à alíquota
padrão do futuro Imposto sobre Valor Adicionado (IVA). Por sugestão da
vice-líder do Governo no Senado, Daniella Ribeiro (PSD-PB), o setor de eventos
foi incluído na alíquota reduzida em 60%.
O relator também acolheu emenda do senador Plínio Valério
(PSDB-AM) para equiparar a remuneração dos servidores dos fiscos municipais e
estaduais aos da Receita Federal. Segundo Valério, a integração do mesmo fato
gerador entre a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), da União, e do
Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), administrado pelos governos locais, fará
os fiscos locais exercerem a mesma função da Receita.
Governadores
Na votação desta quarta, a proposta enfrentou resistência de
última hora de governadores do Sul e do Sudeste. Eles protestaram contra uma
emenda acatada por Braga na CCJ que acrescentou três parágrafos ao Artigo 19 da
PEC que prorroga, pela quarta vez, incentivos a montadoras de veículos do
Nordeste e do Centro-Oeste. Essa prorrogação havia sido derrubada na Câmara, em
julho, quando os deputados rejeitaram um destaque para prorrogar os benefícios
para as duas regiões.
No início da tarde, os governadores do Sul e do Sudeste
reuniram-se com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ameaçaram orientar as
bancadas de seus estados a votar contra a reforma tributária caso não consigam
retirar, na votação de destaques, emendas que consideram como “jabutis”,
inclusões de pontos não relacionados à proposta principal. Segundo os
governadores, as alterações de última hora ampliam a desigualdade de tratamento
entre Norte, Nordeste e Centro-Oeste contra as outras duas regiões.
Novas
exceções
Na votação, na CCJ, Braga tinha acatado 247 emendas de um
total de 777. Entre as mudanças aceitas, está a emenda do senador Mecias de
Jesus (Republicanos-RR), que estende ao gás de cozinha o cashback. A versão
anterior do parecer tinha incluído a energia elétrica no mecanismo de
ressarcimento de tributos às pessoas mais pobres.
Outra mudança está no tratamento diferenciado a clubes de
futebol. Proposta pelo senador Carlos Portinho (PL-RJ), a emenda mantém o
recolhimento unificado de tributos pelas sociedades anônimas do futebol.
Segundo Braga, esse mecanismo jurídico tem ajudado a recuperar a saúde
financeira dos clubes. O relatório já previa que as atividades esportivas
pagariam alíquota reduzida em 60% da futura Contribuição sobre Bens e Serviços
(CBS) e do futuro Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
O novo parecer incluiu benefícios para taxistas comprarem
veículos. Braga acolheu emenda da senadora Mara Gabrilli (PSD-SP), que manterá
a isenção na compra de automóveis por taxistas e por pessoas com deficiência ou
consideradas dentro do espectro autista. O relatório anterior extinguiria o
benefício, com a unificação de tributos.
Braga acatou ainda uma emenda do senador Marcelo Castro
(MDB-PI) para restaurar a alíquota reduzida para atividades de restauração
urbana de zonas históricas. O benefício estava no texto aprovado pela Câmara
dos Deputados, mas havia sido excluído na primeira versão do parecer do
relator.
Outros benefícios incluídos no relatório são a alíquota zero
para medicamentos e dispositivos médicos comprados pelo governo e por entidades
de assistência social sem fins lucrativos, de autoria do senador Fabiano
Contarato (PT-ES). Braga também acolheu emendas dos senadores Esperidião Amin
(Progressistas-SC) e Izalci Lucas (PSDB-DF) para zerar a alíquota de IBS,
tributo administrado pelos estados e municípios, para serviços prestados por
instituições científicas, tecnológicas e de inovação sem fins lucrativos. Na
versão anterior, apenas a CBS, tributo federal, teria a alíquota zerada.
Trava
As principais alterações da reforma tributária em relação à
versão aprovada pela Câmara constam da primeira versão do relatório divulgada
por Braga no fim de outubro. As principais mudanças são a criação de um teto
para a carga tributária, a revisão a cada cinco anos dos regimes especiais de
tributos e a ampliação do Fundo de Desenvovimento Regional (FDR), criado para
incentivar o desenvolvimento de regiões de menor renda, de R$ 40 bilhões para
R$ 60 bilhões por ano a partir de 2043.
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